Folha de S. Paulo


Curtas quebram domínio dos EUA no Oscar; há só 4 produções americanas

Ninguém dá muita bola para eles, mas os curtas-metragens estão na disputa do Oscar em três categorias distintas, trazendo grande diversidade ao prêmio. Algo bem diferente do que ocorre com os indicados às estatuetas tradicionais, sempre dominadas por americanos.

Dos 15 concorrentes, apenas quatro são dos EUA, entre eles os documentários "White Earth", sobre as dificuldades numa cidade dominada pela exploração de petróleo, e "Crisis Hotline: Veterans Press 1", sobre voluntários que ajudam veteranos de guerra suicidas pelo telefone.

Porém, o mais impactante da categoria é, sem dúvida, "La Parka", do mexicano Gabriel Serra Arguello, que acompanha um homem que trabalha há 25 anos num matadouro. A meia hora do filme segue lenta, dolorosa, com imagens indiretas da matança, mas com o poder de revirar o estômago.

Divulgação
'The Bigger Picture', de Daisy Jacobs e Christopher Hees, curta indicado ao Oscar
'The Bigger Picture', de Daisy Jacobs e Christopher Hees, curta indicado ao Oscar

"Queria fazer um filme sobre como lidamos com a morte. E quando ele [o protagonista do documentário] me contou, emocionado, que uma lágrima escorre do olho do touro quando o animal sente que está prestes a ser morto, sabia que tinha achado meu personagem", explica Arguello, durante um evento do Oscar.

Os outros dois documentários, ambos poloneses, também abordam a morte, mas com estilos diferentes.

"Joanna" segue os últimos dias de uma jovem mãe com câncer e os ensinamentos que quer deixar para seu filho, enquanto "Our Curse" filma os dilemas de um casal (o próprio diretor e sua mulher) quando seu bebê nasce com uma grave doença.

VINIL MÁGICO

Os trabalhos de animação são mais leves e engraçados, ainda que dois deles também discutam o fim da vida, como o holandês "A Single Life", sobre um disco de vinil mágico que controla o crescimento de uma garota, e o inglês "The Bigger Picture", sobre a tensão entre dois irmãos para cuidar da mãe doente.

Este último chama a atenção pela técnica, que combina pinturas de tamanho real feitas em paredes com objetos construídos com papel machê, dando efeito 3D aos desenhos.

Os outros indicados são o americano "O Banquete", dos estúdios Walt Disney, sobre um cãozinho louco por comida, a história de bullying entre animais "The Dam Keeper", de um estúdio californiano criado por um americano e um japonês, e "Me and My Moulton", trama graciosa de três irmãs crescendo na Noruega dos anos 1960 em meio a uma família excêntrica de designers.

Torill Kove, diretora e roteirista de "Me and My Moulton", já foi indicada outras duas vezes ao Oscar da categoria e levou a estatueta por "The Danish Poet" (2006).

Ela comentou que a nova animação foi baseada em sua própria família e que as cores fortes foram inspiradas na marca finlandesa Marimekko.

SUICIDA

Entre os trabalhos de ficção, só há estrangeiros. O britânico "The Phone Call" é o único com um rosto conhecido entre os curtas do Oscar –a atriz Sally Hawkins, que precisa ajudar um idoso suicida.

Outras duas histórias de amizades improváveis estão no israelense "Aya" e no suíço "Parvaneh", enquanto a coprodução chinesa e francesa "Butter Lamp" viaja pelos cafundós do Tibete e o britânico "Boogaloo and Graham" acompanha dois irmãos e suas galinhas de estimação.

Neste ano, curtas ganharam mais espaço nos cinemas dos EUA. Há dez anos, os filmes são reunidos em programações lançadas na época do Oscar e, pela primeira vez, arrecadaram mais de US$ 1 milhão (R$ 2,8 milhões) nas bilheterias em menos de uma semana.

O site Vimeo traz as obras de animação e ficção –cada programa por US$ 3,95–, além dos documentários "White Earth", "La Parka" e "Joanna". O iTunes vende alguns dos curtas.


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