Folha de S. Paulo


Análise: Fiel ao abstracionismo, Tomie Ohtake deixa marcas pelas ruas de SP

Sempre vestida de preto e econômica no falar, Tomie Ohtake, com sua discrição, contrastou com sua efusiva produção. Desde 1952, quando começou a estudar pintura, já quase com 40 anos e depois dos filhos criados, a artista criou uma vasta produção em pinturas, gravuras, esculturas e obras públicas.

Em São Paulo, ela é visível em algumas de suas principais vias: em esculturas de aço nas avenidas Paulista e Berrini, em frente a edifícios comerciais; nas ondas de concreto da 23 de Maio, de 1988, inauguradas na comemoração dos 80 anos da imigração japonesa, em frente ao Centro Cultural São Paulo; num painel de 55 metros de altura, pintado na lateral de um edifício na Ladeira da Memória, no centro; e mais recente, em uma escultura próxima ao aeroporto internacional de Guarulhos, inaugurada para celebrar os cem anos da imigração japonesa.

Também é visível em importantes edifícios, dois deles projetos de Oscar Niemeyer, ambos painéis em tapeçaria: o do auditório do Memorial da América Latina, recentemente danificado, e o do auditório do parque Ibirapuera.

A discrição da artista tem a sorte de estar ancorada no trabalho dos filhos, o arquiteto Ruy Ohtake e o produtor cultural Ricardo Ohtake. Em frente aos prédios de um ou graças às várias gestões na área de cultura do outro, Tomie conquistou espaço raro e merecido.

FIDELIDADE

Ela começou a pintar em uma época de grandes embates, quando o abstracionismo se sobrepunha ao figurativismo. Muitos artistas passaram para a corrente chamada de vanguarda por oportunismo.

Tomie foi fiel a ela por toda a sua vida. Ao longo de mais de 60 anos de carreira, aliás, o que ela fez foi depurar seu estilo cada vez mais.

Segundo o crítico e professor Agnaldo Farias, a contribuição de Tomie, na história da arte brasileira, é realizar uma síntese entre geometria e informalismo.

"Ela mobiliza suas forças para aproximar raciocínio construtivo e sensibilidade gestual, obtendo, assim, uma singularidade estilística fundamentada em referências opostas, como retilínio-curvilíneo, inorgânico-orgânico, harmonia-deslocamento e simetria-assimetria", escreveu o curador no catálogo da retrospectiva da artista, em 2001, quando da inauguração do Instituto Tomie Ohtake, projeto concebido pelos seus dois filhos.


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