A poltrona reservada a Jafar Panahi no monumental Berlinale Palast, principal sala de projeções do Festival de Berlim, ficou vazia de novo.
Mas o cineasta iraniano proibido de filmar e de sair de seu país fez chegar aos curadores "Táxi", seu terceiro (e talvez mais afiado) longa-metragem clandestino.
Revelado por "O Balão Branco" (1995) e "O Círculo" (2000), que receberam prêmios em Cannes e Veneza, Panahi passou três meses na cadeia em 2010. Estava rodando um documentário sobre os protestos que se seguiram à (contestada) reeleição de Mahmoud Ahmadinejad. Mais tarde, foi condenado a seis anos de prisão e impedido de fazer filmes, dar declarações públicas ou viajar ao exterior por 20 anos. Nada que o tenha calado.
Johannes Eisele/AFP | ||
Display com foto do diretor iraniano Jafar Panahi em frente ao Palácio da Berlinale |
Em 2011, "Isto Não É um Filme" convocava amigos e colaboradores do diretor para registrar seu cotidiano em prisão domiciliar -ninguém poderia acusá-lo de descumprir a pena: ele estava diante, não atrás da câmera. Dois anos depois, reincidia com "Cortinas Fechadas", em que deslocava para um alter ego (não por acaso, um roteirista) as ruminações sobre censura e resistência silenciosa.
Em "Táxi", Panahi sai do confinamento doméstico, instala uma microcâmera no para-brisa do bólido do título e cruza Teerã como chofer -cortês, é certo, mas absolutamente desprovido de senso de direção. Entre os passageiros há uma professora que critica a arbitrariedade da aplicação da pena de morte pela sharia (lei islâmica), um vendedor de
DVDs piratas que reconhece o cineasta por debaixo do disfarce e a sobrinha do diretor.
Nunca se sabe o que é realidade ou encenação no perfil dos personagens ou em suas interações com o "motorista". Além do enigma ficção/documentário, Panahi se serve do estúdio sobre rodas para retomar outros temas que lhe são caros. A saber, o sexismo no Irã, o autoritarismo obscurantista do regime islâmico e o cinema tanto como espelho crítico dessas chagas quanto como unguento eventual para aliviá-las, pela via do jogo e do riso.