Folha de S. Paulo


Exposição apresenta imagens históricas do cangaço

Lampião e Benjamin Abrahão formavam uma dupla curiosa. Aparentemente o cangaceiro pernambucano Virgulino Ferreira da Silva e o imigrante sírio bonachão não possuíam nada em comum.

Um traço, porém, os unia: um instinto apuradíssimo para o marketing pessoal. Abrahão acompanhou o bando de Lampião em meados de 1936, quando registrou, em fotos e filmes, a mais completa iconografia da história do cangaço.

Esse material é a base da exposição "Cangaceiros", em cartaz na Mira Galeria de Arte, em São Paulo, que reúne cem fotografias. Uma caixa de luxo, com as fotos e um DVD de 14 minutos de filme sobre Lampião, está à venda na galeria (preço sob consulta).

Abrahão (1901-1938) desembarcou no Recife em 1915. Teve várias ocupações, com especial talento para aplicar pequenos golpes. Sua lábia encantou até mesmo o padre Cícero, de quem foi secretário em Juazeiro do Norte (CE).

Após a morte do padre, empreendeu outro projeto para conquistar fortuna: registrar a vida do rei do cangaço.

Financiado pela empresa de material fotográfico Abafilmes, Abrahão embrenhou-se pelo sertão atrás dos cangaceiros. Conquistou a confiança de Lampião e tornou-se uma espécie de fotógrafo oficial de seu bando. A relação foi tema do filme "Baile Perfumado" (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira.

Exibicionista nato tanto quanto Abrahão, Lampião (1898-1938) deixou-se fotografar e filmar com entusiasmo e incentivou seus companheiros a fazer o mesmo.

O sírio registrou imagens prosaicas: o bando se alimentando, pegando água nos riachos, preparando comida, criando o vestuário.

"Essas imagens não possuem valor artístico. Eram fotos posadas, para abastecer a imprensa. Mas são importantíssimas historicamente. Grande parte do que sabemos sobre o cangaço veio delas", diz Ricardo Albuquerque, curador da exposição.

Ele é neto de Adhemar Bezerra de Albuquerque (1892-1975), que foi dono da Abafilmes e parceiro de Abrahão.

Além do trabalho do sírio, Ricardo selecionou do acervo do avô imagens feitas por anônimos. As mais impressionantes mostram as cabeças decepadas dos cangaceiros.

Hoje célebre, o material produzido por Abrahão não alcançou o resultado financeiro esperado. O filme com Lampião foi apreendido pelo governo Getúlio Vargas em 1937 e só voltou a circular em 1954. Das 99 fotos de Abrahão preservadas no acervo da Abafilmes, cerca de 40 não foram comercializadas.

Longe da glória almejada, Abrahão foi assassinado com 42 facadas no sertão de Pernambuco em 1938. O crime nunca foi totalmente esclarecido. Lampião foi abatido no mesmo ano, em uma emboscada da polícia.

CANGACEIROS
QUANDO de seg. a sex., de 10h às 19h; sáb., de 12h às 17h; até 13/2
ONDE Mira Galeria - r. Joaquim Antunes, 187; tel. (11) 2528-0409
QUANTO grátis


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