"Às vezes, são aqueles que ninguém imagina poder fazer algo que fazem algo que ninguém pode imaginar." Essa é a frase central de "O Jogo da Imitação", o filme sobre o matemático britânico Alan Turing, um dos mais ilustres e mais desconhecidos cientistas da história.
Lançado em novembro nos Estados Unidos, acumulou oito nomeações para o Oscar, incluindo melhor filme, ator, diretor e atriz coadjuvante. Finalmente Turing recebe a atenção que merece.
Um dos pioneiros da teoria da computação, Turing criou também o famoso teste com o seu nome, essencial na pesquisa de inteligência artificial: um interlocutor isolado tem que determinar se conversa com uma máquina ou uma pessoa. Essa é uma das imitações a que o título do filme se refere. A outra vem da homossexualidade de Turing, que escondeu por toda a vida. Ou quase.
ENIGMA
O filme foca o trabalho de Turing em Bletchley Park, onde agentes civis e militares do serviço secreto inglês tentavam decodificar as mensagens de rádio que os nazistas usavam para orientar ataques de suas forças armadas. Os códigos, considerados inquebráveis, eram gerados por uma máquina chamada Enigma. Se Enigma fosse decifrada, os aliados venceriam a guerra.
Turing é um herói sem hino, ao menos até agora. O homem que desvendou o maior dos segredos era cheio deles. Sem insistir em detalhes técnicos –mais apropriados para um documentário– o filme dramatiza as tensões de Turing no trabalho (algumas inventadas) para relatar o progresso na construção da máquina que o ajudaria a decifrar Enigma.
O perfil do gênio solitário, excêntrico e socialmente inepto cabe bem no caso dele. Com sua sexualidade reprimida, seu maior prazer era correr, terminando maratonas em apenas 11 minutos a mais do que o recorde mundial da época. Condenado pela sua homossexualidade, Turing foi submetido à castração química.
Morreu em 1954, aos 41 anos, oficialmente por suicídio, segundo sua mãe por acidente. Em 2009, o então primeiro-ministro britânico Gordon Brown pediu desculpas em nome do governo pelo modo com trataram Turing. A rainha Elizabeth 2ª perdoou-o em 2013. Seria bom saber do que foi perdoado, exatamente.
O JOGO DA IMITAÇÃO
(THE IMITATION GAME)
DIREÇÃO Morten Tyldum
ELENCO Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode
PRODUÇÃO Reino Unido/EUA, 2014, 12 anos
QUANDO estreia nesta quinta (5)
AVALIAÇÃO ótimo