Folha de S. Paulo


Crítica: 'Minúsculos' poderia estar nas melhores sessões do Anima Mundi

A animação "Minúsculos" não é o tipo de filme que se espera encontrar no cinema.

Praticamente mudo e utilizando personagens digitais inseridos em paisagens reais, ele deixa no espectador a sensação de ter saído de uma das melhores sessões do festival Anima Mundi, e não de uma sala do circuito comercial.

A história segue uma joaninha que, logo no primeiro dia de vida, arruma encrenca com uma gangue de moscas, sofre um acidente e perde uma asa. Confinada ao solo e sem conhecer direito o mundo, ela é acolhida por um grupo de formigas que tenta levar uma lata de açúcar para seu formigueiro enquanto foge de um grupo rival.

Divulgação
Cena do filme 'Minúsculos'
Cena do filme 'Minúsculos'

O tom de aventura, meio "road movie", meio "Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida" (1981), brinca com a expectativa de desastre e culmina em um final completamente inesperado e absurdo. Mas, por mais divertido que seja o roteiro, é no design de produção que o filme se destaca.

Ambientar a ação em um região montanhosa da França, com locações filmadas em riachos, formações rochosas e pradarias reais, cria momentos inesperados de contemplação da natureza, ao mesmo tempo em que ajuda a cimentar a ação como parte do nosso mundo.

Além disso, o filme é recheado de referências cinematográficas que vão do humor físico de "O Gordo e o Magro" ao suspense da morte do detetive Arbogast em "Psicose" (1960). Esse jogo entre documentário e ficção, a exceção de duas cenas, funciona com perfeição.

Não incluir uma linha de diálogo durante todo o filme também é escolha interessante. Joaninhas, formigas, aranhas e afins conversam por meio de apitos, assovios e outros ruídos. Bichos não falam, afinal. Mesmo nos momentos em que um casal humano aparece, toda a conversa é feita com a troca de olhares.

No geral, "Minúsculos" poderia ser uma dessas séries de documentários sobre vida selvagem, produzidas pela BBC e que às vezes são exibidas no "Fantástico". Se de repente a voz do naturalista britânico David Attenborough começasse a narrar a história –ou Tadeu Schmidt, em uma na versão picotada da Globo–, ninguém estranharia.

MINÚSCULOS
(Minuscules - La Vallée des Fourmis Perdue)
DIREÇÃO Hélène Giraud e Thomas Szabo
PRODUÇÃO França/Bélgica, 2013, livre
QUANDO estreia nesta quinta (22)
AVALIAÇÃO bom


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