Folha de S. Paulo


Ex-diretor do Museu de Zoologia da USP assumirá museus do MinC

Ex-diretor do Museu de Zoologia da USP, o professor Carlos Roberto Brandão será o novo presidente do Instituto Brasileiro de Museus, órgão do Ministério da Cultura responsável pelo setor museológico e pela gestão direta de 30 museus federais, substituindo o ex-titular da autarquia Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, que assumiu a secretaria estadual da Cultura em Minas Gerais.

Brandão foi convidado por Juca Ferreira, ministro da Cultura, na semana passada e passará a exercer o comando do Ibram no final de fevereiro, quando toda a equipe do ministério já estará definida.

Atual curador das coleções do Museu de Zoologia da USP e professor do Instituto de Estudos Avançados da mesma universidade, Brandão já integrou o conselho executivo do Conselho Internacional de Museus, órgão ligado à Unesco, e presidiu o comitê brasileiro dentro do mesmo órgão entre 2001 e 2010.

No meio museológico, Brandão é conhecido por sua afinidade com o modelo de gestão de museus praticado em São Paulo, Estado que forjou o sistema de organizações sociais, uma espécie de terceirização da condução de museus públicos usando repasses de verbas públicas para associações privadas.

Esse modelo contraria o que vem sendo usado no Ministério da Cultura desde o governo Lula. A escolha de Brandão, segundo apurou a Folha, causou descontentamento em certas alas do Partido dos Trabalhadores, que enxergam no novo titular do Ibram uma aliança de Juca Ferreira com os tucanos.

Recém-nomeado, Brandão deu entrevista à Folha, por telefone, de seu escritório em São Paulo. Leia a seguir trechos da conversa.

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Folha - Qual será sua prioridade à frente do Instituto Brasileiro de Museus?
Carlos Roberto Brandão - Minha primeira prioridade é me inteirar de maneira mais aprofundada dos programas que estão em andamento e como eles podem ser fomentados. O ministro tem ideias no campo de museus e conversamos sobre isso, mas estou aguardando orientações de programas que ele gostaria de implementar e não conheço ainda quais são os mecanismos. É prematuro ainda falar em programa, porque não tenho essas informações fundamentais.

O que eu gostaria de enfatizar é a importância dos museus universitários, científicos, as coleções de biodiversidade, porque esses temas sempre foram mais tratados no campo do Meio Ambiente, mas é importante que a Cultura participe dessas discussões.

Pela sua especialidade em zoologia e na área científica, você sente dificuldade com a condução de museus históricos e de arte?
Eu sempre tratei com todos os tipos de museu, então não me sinto despreparado ou intimidado em tratar de museus históricos ou de arte contemporânea. O Ibram tem museus de várias tipologias, algumas delas que se aproximam bastante da minha área de especialidade, mas acho que adquiri um conhecimento para todas elas.

Alguns dos museus sob alçada do Ibram, aliás, estão em condições preocupantes, precisando de reformas e restauros urgentes, como o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio. Como vê essa questão?
Alguns museus nacionais merecem um cuidado especial. O ministro está preocupado com isso e pretende que a gente consiga equacionar as questões mais emergenciais. O Museu Nacional de Belas Artes é um dos que vêm mais à mente.

Há situações muito distintas. Se você pegar a situação do Museu Histórico Nacional, vê que é uma situação mais cômoda. Já o Museu Nacional de Belas Artes tem problemas mais graves, mas eu senti uma disposição do ministro de resolver essas questões. Tem essa questão administrativa que precisa ser resolvida. É importante que os museus consigam executar seus orçamentos de forma mais eficaz. Não é uma tarefa simples.

Causou polêmica no ano passado o decreto do Ibram que permite que o governo declare obras de arte de colecionadores privados como bens de interesse público. Acredita que as dúvidas já foram sanadas em relação a isso?
Isso era uma reivindicação já de um certo tempo da área. Na sua implementação já se percebeu que há algumas arestas, mas foi um passo importante que talvez mereça aperfeiçoamento. No espírito é uma medida muito positiva e agora temos de viabilizar os mecanismos para que isso aconteça.

Isso foi feito para agilizar os processos de aquisição. Digamos que um museu público queira fazer uma aquisição e exista um mecenas para financiar isso, então em vez de esse mecenas transferir o dinheiro para o Tesouro da União que depois repassaria para o museu, o doador pode negociar e o museu ser o beneficiário. Temos de ver quando os casos acontecerem de fato se existe algum obstáculo. Esses detalhes vão aparecer na hora que as negociações acontecerem, e a gente vai aprender na prática se vai precisar alterar o mecanismo. O importante é que os interesses dos museus estão sendo preservados.

Outra reivindicação da área é a redução dos altos impostos que incidem sobre obras de arte que entram no país. Não houve avanço nas gestões anteriores.
Temos de continuar nessa luta. Eu pretendo continuar e, se puder, aprofundar. Isso é de interesse da comunidade museológica, não é só na área das obras de arte. Na paleontologia, na biodiversidade, tivemos casos no Museu de Zoologia de materiais que foram incinerados pela Receita Federal por causa de um documento. Isso é lamentável e deve ser evitado. É patrimônio nosso que um órgão brasileiro destrói por uma questão burocrática.

Na essência isso tem de ser evitado. Eu vejo essa preocupação em várias áreas e no campo das artes isso tem uma notoriedade maior, mas acontece em muitos campos. O ministro está muito consciente disso, está buscando essas interlocuções e acredito que vamos chegar a um bom termo.


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