Folha de S. Paulo


Filme brasileiro indicado ao Oscar traz visão 'crua' do mundo, diz diretor

Juliano Ribeiro Salgado, filho do fotógrafo Sebastião Salgado, estava almoçando com amigos em Berlim quando soube que o documentário que rodou ao lado do alemão Wim Wenders sobre a obra de seu pai, "O Sal da Terra", havia sido indicado ao Oscar de melhor filme da categoria.

Mesmo sabendo que havia uma chance da indicação, já que o longa estava entre os 15 finalistas apontados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, Ribeiro Salgado ficou surpreso com a notícia. "É uma loucura, uma notícia muito incrível", disse o cineasta à Folha. "Ainda não sei o que pensar. Estou superfeliz, é uma honra muito grande."

É fato que seu documentário já vinha de uma trajetória de premiações, tendo vencido um troféu especial do júri no último Festival de Cannes, na França, e eleito melhor filme pelo público no Festival de San Sebastián, na Espanha, mas o Oscar, espera ele, será uma vitrine incomparável para a obra de seu pai.

Decia Film/Divulgação
Sebastião Salgado durante o projeto Gênesis em imagem do filme 'O Sal da Terra', de Juliano Salgado e Win Wenders
Sebastião Salgado durante o projeto Gênesis em imagem do filme 'O Sal da Terra', de Juliano Salgado e Win Wenders

"É uma exposição muito forte para o trabalho do Sebastião. Isso joga uma luz em cima de tudo que ele fez", diz o diretor. "Tem muitas coisas que ele viveu que não aparecem nas fotografias e precisavam ser contadas. Esse filme é muito importante para encarar esse momento pessimista que estamos vivendo, traz uma maneira muito crua e real de ver o mundo."

Crua porque "O Sal da Terra", com estreia prevista para o fim de março em cinemas do Brasil, acompanha Sebastião Salgado em viagens para documentar territórios virgens, quase intocados pela presença do homem, ao redor do mundo, num contraste com sua obra de caráter mais panfletário em prol dos direitos humanos.

De certa forma, o filme é um olhar sobre os bastidores de "Gênesis", último livro de Sebastião Salgado, que foi tema de mostras, com grande sucesso de público, no mundo todo.

Segundo Ribeiro Salgado, o documentário é um formato que vem ganhando mais força no circuito cinematográfico por se adaptar com mais facilidade aos novos meios de difusão de produções audiovisuais, hoje consumidas não só no cinema mas também em plataformas móveis, como tablets e celulares.

Seu novo projeto será um documentário sobre o artista plástico malinês Abdoulaye Konaté, um dos convidados do próximo Festival Videobrasil, que acontece neste ano em São Paulo. Ribeiro Salgado pretende acompanhar viagens do artista a uma reserva indígena na Amazônia e também a tribos do Saara, no Mali.

"Vou registrar um diálogo direto entre as culturas da Amazônia e do Saara sem passar pela intervenção de autores ou pensadores do norte", diz Ribeiro Salgado. "Vai sair uma coisa muito bonita disso."


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