Folha de S. Paulo


'Girls' tomam decisões mais sábias em 4º ano da série

As protagonistas de "Girls" chegam à quarta temporada, que estreia neste domingo (11), nos EUA e no Brasil, com alguns de seus conflitos resolvidos. Crescer, no entanto, não parece mais fácil.

"As garotas estão tomando decisões mais inteligentes ""e descobrindo que a vida ainda é difícil", diz Lena Dunham, diretora, roteirista e protagonista da série em um vídeo sobre os novos episódios.

Mas se a vida continua dura, os novos caminhos tornam a quarta temporada mais crível. Aos poucos, as personagens abandonam os estereótipos que cada uma representava até então e possibilitam ao espectador criar uma relação de empatia com aquilo que elas sentem.

ALUGUÉIS MILIONÁRIOS

No retorno às telas, Hannah (Lena) decide se mudar para Iowa, no centro-oeste dos Estados Unidos, para participar de uma renomada oficina de escritores e perseguir o sonho de ser "a voz de sua geração".

A mudança de rumo de sua protagonista traz uma nova dinâmica para a série: pela primeira vez, a história não é ambientada apenas em NY.

"Nós tivemos momentos ótimos gravando em Iowa. Foi muito divertido entrar em um mundo totalmente novo para a série e colocar Hannah em outras situações complexas", afirma Dunham, em entrevista a um grupo de jornalistas.

"Foi como fazer uma série derivada. As pessoas estão muito acostumadas a Hannah no mundo de 'Girls'", completa a produtora-executiva Jennifer Konner. "É interessante colocá-la num cenário em que ninguém a conhece e ver o que as pessoas pensam dela."

O novo cenário dá origem a cenas cômicas, como a surpresa de Hannah com o tamanho da casa que pode alugar por tão pouco dinheiro em Iowa –em comparação aos aluguéis milionários por lugares minúsculos em Nova York.

ESPIRAL DE DRAMA

No Brooklyn, Marnie (Allison Williams) finalmente descobre o que quer e tenta a vida como cantora, enquanto tem um caso com seu parceiro musical. Shoshanna (Zosia Mamet) conseguiu se formar na faculdade e tenta conseguir um emprego, e Jessa (Jemima Kirke) parece estar fora da espiral de drama em que se vê envolvida durante basicamente todo o tempo.

"Vamos vê-la tentando construir lentamente uma vida. Isso começa nessa temporada com o estabelecimento de relações consistentes, algo que ela viu como entediante por muito tempo", diz Kirke.

Mas, apesar das mudanças, todos os elementos que fizeram de "Girls" a série mais odiada e amada da televisão norte-americana desde a primeira temporada –a quinta, aliás, já foi anunciada pela HBO– estão lá.

As protagonistas estão tão autocentradas quanto sempre, algumas situações ainda soam absurdas e elas são, na maior parte do tempo, péssimas amigas. As cenas de nudez também são parte importante do roteiro: no primeiro episódio, por exemplo, Allison Williams protagoniza uma cena de sexo oral no ânus.

Segundo a atriz, a passagem é importante para "mostrar quão confortável ela se sente com Desi [Ebon Moss-Bachrach]", seu caso nesta temporada. "Se tivemos alguma dificuldade especial ao escrever esta nova temporada? Pensar em novas posições sexuais", diz, rindo, a produtora Jennifer Konner.

ABUSO SEXUAL

Não é só o suposto alter ego de Lena Dunham, Hannah Horvath, que desperta as mais acaloradas reações do público. Dunham está ainda mais envolta em discussões polêmicas do que a personagem que criou para a televisão.

Em setembro, a diretora de "Girls" lançou nos Estados Unidos a autobiografia "Não Sou uma Dessas" (Intrínseca).

Em uma das passagens do livro, Lena conta que aos sete anos de idade abriu a vagina da irmã, Grace, na época com um ano, para olhá-la, por curiosidade. Ela também descreve como pagava a irmã com doces para "beijá-la na boca por cinco segundos".

A autora foi acusada de abusar sexualmente da irmã e reagiu furiosamente. "A história de que eu molestei minha irmã mais nova é triste e nojenta", disse ela no Twitter.

Alguns críticos, mais contidos, afirmaram que os trechos poderiam desenterrar memórias de vítimas reais de abuso. Diante dessas opiniões, Lena se desculpou.

O assunto, que parecia encerrado, está na quarta temporada de "Girls" "por coincidência ou premonição", brinca a produtora-executiva da série, Jennifer Konner.

No segundo episódio, Hannah enfrenta críticas de colegas da oficina de escrita sobre um ensaio que trata de... abuso. "Isso foi insano, nós escrevemos seis meses antes de o livro sair! Depois brincamos: 'Será que dá para escrever sobre ganhar na loteria também?'", diz Konner.

Se as cenas não foram criadas para falar sobre o episódio, elas têm o objetivo de tratar de algumas das críticas direcionadas à Lena. Uma das colegas do curso diz que não sabe avaliar o texto, já que ele é "claramente não ficcional", enquanto um homem afirma que o artigo está cheio de "ideias feministas ultrapassadas."

Mas Lena parece ter desistido de tentar entender o ódio que desperta. "Acho que não seria muito saudável ficar tentando analisar isso."

"Há pessoas que têm problemas totalmente compreensíveis comigo e com a minha voz. E há também o contingente de homens brancos e velhos que não querem ouvir mulheres falando."

NA TV

Girls
Estreia da quarta temporada
Quando: dom. (11), à 0h, na HBO


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