Folha de S. Paulo


Crítica: Alan Turing é o 'cientista louco' mais interessante do cinema

De todos os "cientistas loucos" que o cinema nos tem apresentado, o matemático Alan Turing (Benedict Cumberbatch), deste "O Jogo da Imitação", é de longe o mais interessante. Isso se deve em parte ao seu trabalho na Segunda Guerra: liderar a equipe que desvendou códigos alemães feitos por uma máquina.

Mas a concepção de sua máquina de quebrar códigos é um pouco o que Hitchcock chamava de "Mcguffin", algo que interessa muito mais aos personagens, e por isso funciona como âncora do roteiro, do que aos espectadores.

O que mais conta é a personalidade de Turing: genial, arrogante, narcisista, incapaz de sentimentos... Não é um homem comum –alguém meio ausente do mundo corrente, que vive para o pensamento.

AFP
O matemático britânico Alan Turing posa para foto na escola em Dorset (Inglaterra) em 1928
O matemático britânico Alan Turing posa para foto na escola em Dorset (Inglaterra) em 1928

O que torna Turing tão interessante é justamente aquilo em que destoa da maior parte dos cientistas de cinema: não é maluco nem intenso. É, ao contrário, um tanto distante, não faz questão de se apresentar simpático (a nós).

Talvez seja um excesso de cautela guardar quase em segredo a outra questão central de Turing: a homossexualidade. É verdade que a interferência de duas questões tão distintas poderia causar algum ruído no roteiro.

Sua entrada com força, ao final, gera uma virada na trama, substituindo a brutalidade da guerra pela violência desmedida das leis inglesas contra homossexuais.

É sobre a violência que Turing enuncia uma tirada que resume em boa medida sua maneira de estar no mundo: a violência causa prazer.

Por fim: alguns sentimentalismos a menos cairiam bem neste filme a que se assiste com prazer.

O JOGO DA IMITAÇÃO
(THE IMITATION GAME)
DIREÇÃO Morten Tyldum
ELENCO Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode
PRODUÇÃO Reino Unido/EUA, 2014 (estreia em 29/1)
AVALIAÇÃO bom


Endereço da página: