Folha de S. Paulo


Ativista defende revolução verde para salvar o mundo

Em tom de manifesto, a canadense defende mudanças no modelo econômico global, priorizando energia limpa e incentivos à produção local

Para defender o planeta é preciso destruir as bases da economia neoliberal. Privatizações e desregulamentações precisam ser atacadas. O poder de intervenção do Estado e o planejamento de longo prazo devem ser revigorados.

O caminho para isso é construir um forte movimento de massas. A luta contra o aquecimento global é uma chance para catalisar ações por uma sociedade menos desigual.

Suzanne DeChillo/The New York Times
Naomi Klein, jornalista, escritora e ativista canadense, durante entrevista sobre o lançamento do seu livro
Naomi Klein, jornalista, escritora e ativista canadense, durante entrevista sobre o lançamento do seu livro "This Changes Everything" em Nova York (EUA)

Esse é o cerne de "This Changes Everything: Capitalism versus the Climate" (isso muda tudo: capitalismo versus clima), novo livro de Naomi Klein, 44.

Em tom de manifesto, a canadense defende mudanças no modelo econômico global, priorizando o controle público de investimentos, energia limpa, incentivos à produção local e redução de consumo (menos para os pobres).

Na sua visão, é urgente fazer uma espécie de Plano Marshall para a Terra. Os custos da transformação seriam pagos pelos grandes poluidores (petrolíferas, por exemplo) e por países ricos –sob pressão de movimentos de massas.

Para quem classifica sua tese de "sonhática", Klein diz que, em outros momentos da história, a população conseguiu mudar a tendência dominante. A onda pelos direitos civis nos Estados Unidos nos anos 1960 e o movimento abolicionista no século 19 são alguns dos exemplos citados.

Ela traça paralelo entre o poder dos escravocratas de então e o dos grandes poluidores –e senhores do poder de hoje.

Com ressalvas, a jornalista afirma que o peso do trabalho escravo na economia americana de então é comparável à importância dos combustíveis fósseis agora.

Assim como aqueles proprietários perderam na época, hoje é a vez de os empresários ligados ao petróleo pagarem a conta. Mudança assim não será implantada pelas forças do livre mercado, diz Klein.

Nesse novo livro, a autora retoma, de forma aguda, teses de suas obras anteriores, especialmente de "A Doutrina do Choque" (2007). Ela conecta a aceleração do aquecimento global à ascensão do capitalismo neoliberal a partir dos anos 1980 –justamente quando a questão ecológica começou a ganhar mais evidência.

Mercados desregulamentados, invasão privada de espaços públicos, celebração do individualismo e do consumismo, políticos financiados por corporações: segundo ela, esse pacote ajudou a turbinar o capitalismo –e a poluição.

Klein aponta a ligação entre céticos do aquecimento global e grandes empresas e questiona a ação de celebridades em favor do clima. Mostra elos entre as petroleiras e expoentes do movimento ambiental e espinafra a "financeirização" desse mercado.

Elogiando decisões na Alemanha que devolvem empresas de energia ao controle público e revoltas de comunidades atingidas pelo aquecimento global, a ativista não vai longe no desenho da nova sociedade imaginada. Não há reflexão mais profunda sobre como seria o plano para países periféricos e sedentos de crescimento, como o Brasil.

Genericamente, defende que um mundo preocupado com energia renovável, transporte público, agroecologia e economia local criaria mais empregos e melhoria a vida da maioria. Cita projeções e dados circunscritos a experiências ainda limitadas.

Mesmo com fragilidades, o livro faz um alerta contundente. Cética em relação a acertos governamentais, Klein desabafa: "Largar tudo e plantar verduras não é uma opção para esta geração. Somente movimentos sociais de massa podem nos salvar agora".

THIS CHANGES EVERYTHING, CAPITALISM VERSUS THE CLIMATE
AUTORA Naomi Klein
EDITORA Simon & Schuster
QUANTO US$ 30 (R$ 80), importado (576 págs.)


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