Folha de S. Paulo


Racionais MC's usam cenário grandioso em show de lançamento

Os fãs, que esperaram 12 anos por um novo disco de inéditas dos Racionais MC's, precisaram ter um pouco mais de paciência ainda na madrugada deste sábado (21) até poderem ver o maior grupo do rap nacional apresentar no palco o trabalho recente.

A festa de lançamento de "Cores & Valores" —com ingressos a R$ 140— começou cedo, por volta das 22h de sexta (20), no Espaço das Américas (zona oeste de São Paulo). Aqueceram a plateia shows do grupo novato Obstinados, do rapper Dexter e da cantora Negra Li —dela, a interpretação de "Rap É Compromisso", de Sabotage (1973-2003) foi ovacionada.

Os Racionais, porém, só começaram a sua apresentação quando já passava da 1h30, com a casa quase lotada. Segundo a assessoria de imprensa do local, compareceram cerca de 7.000 pessoas —a capacidade total é de 8.000.

Para delírio do público, nesta hora, não só os ídolos deram as caras como ainda surpreenderam ao aparecer diante de um cenário grandioso, entregando que o espetáculo teria tom teatral. O novo material recria os muros de uma espécie de instituição financeira —que mais parece uma prisão—, com paredões que imitam concreto e arame farpado no alto.

De dois andares, a estrutura também abriga, onde seria um espaço para vigia, no alto, a cabine dos DJs, que trabalham sob comando de KL Jay.

Uma explosão fez os dois portões imensos da construção se abrirem —cifrões decoram as grades dessas portas, à la Tio Patinhas. Então, Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e sua entourage de MCs e b-boys—por vezes, chegava a haver 20 pessoas simultaneamente em cena—- tomaram de assalto o palco, que também tinha uma caçamba de entulho como cenário.

O clima de assalto, aliás, foi reforçado por alguns bailarinos vestidos com uniformes laranja, como os de gari, usando máscaras de palhaço e empunhando armas —como na capa do disco novo. Também chama a atenção um bailarino vestido de curinga.

"Isso é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade de alguém é uma mera coincidência", disse Brown, que, assim como Edi Rock e Ice Blue, usava colete por cima da camiseta —o modelo sugeria ser do tipo à prova de bala.

PASSADO E PRESENTE

As composições de "Cores & Valores" dominaram a primeira parte do show —ao todo, houve uma hora e quinze minutos de apresentação.

"Somos o que Somos", "Eu Compro", "A Praça" e "Você me Deve", entre outras, mostraram já ter sido aprendidas pelos fãs no último mês —o disco saiu no fim de novembro, só em formato digital.

Da nova safra, porém, a que parece empolgar mais o público é "Quanto Vale o Show", cantada por um Brown que evoca memórias antigas, de 1983. "O pica era o Djavan / O hit era o 'Billy Jean' / Do rock ao black as mais tops / Nos dias de mais sorte, ouvia elas no 'Som Pop'", diz a letra.

Assim como no disco, a romântica "Eu te Proponho", também de Brown, foi guardada para encerrar o bloco dedicado ao novo disco. A declaração de amor termina com sample de "Castiçal", de Cassiano, precursor da soul music no Brasil.

Seguindo o clima de nostalgia, a partir daí, foram lembrados alguns dos maiores sucessos do grupo, que completou, em 2014, 25 anos de carreira.

O público cantou em coro músicas como "Vida Loka - parte 1", "Vida Loka - parte 2", "Negro Drama", "Artigo 157" e "Homem na Estrada". "Tamo junto até o final. Até o final da marginal", disse Brown, ao final desta.

Com cara de festa de fim de ano, o show terminou com espumante sendo estourado no palco, enquanto Ice Blue corria para abraçar os fãs colados à grade.


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