Folha de S. Paulo


'Humor é lubrificante para lidar com certos assuntos', diz Grace Gianoukas

Após 13 anos de uma rotina maluca, a "Terça Insana", projeto de teatro de humor criado pela atriz Grace Gianoukas, despede-se do público neste final de semana, em São Paulo.

"Terça Insana - Adiós Amigos", em cartaz no Teatro Bradesco até domingo (21), é a última temporada do espetáculo da forma como é conhecido e ficou famoso - já foram 2.200 apresentações e mais de 2 milhões de espectadores.

Mas sem choro: a despedida do formato, com diferentes atores interpretando vários personagens e novos quadros todo mês, não é o fim da produtora de teatro criada por Grace em 2001.

"Preciso dar uma parada para me dedicar a outros projetos, mas não vou renegar o repertório incrível que a gente criou. Vamos pinçar algumas coisas e apresentar pílulas do nosso trabalho, além de espetáculos como 'Mulheres Insanas'", conta a atriz, que acaba de completar 51 anos.

Entre os novos projetos, ela pretende montar um solo no segundo semestre de 2015.

"Estado de Grace" vai tratar de graças (no sentido de bênçãos) sob vários pontos de vista —humor, fé e sexo, por exemplo.

Também vai dar uma percorrida pelos sete pecados capitais contemporâneos, diz Grace.

"Os dois pecados que mais pegam hoje são a inveja e o orgulho. Se a gente não tivesse tanto orgulho, tanto selfie, o mundo ficaria bem melhor."

Além do solo, Grace pretende, com o fim das "terças", estudar mais, dirigir alguns atores e fazer workshops em diversas cidades brasileiras.

HUMOR LUBRIFICANTE

A atriz quer discutir e ensinar o que chama de "humor filosófico" da "Terça Insana".

"O humor é como um "K-Y" [lubrificante íntimo] para que a gente possa lidar com certos assuntos sem tanta dor".

A filosofia bem-humorada de Grace quer passar longe da humilhação e da baixaria.

"Torço o preconceito ao contrário. Com muita brincadeira, bobagens, nonsense, mas sempre num ambiente de crítica."

Grace chegou a São Paulo no final dos anos 1970, "quando qualquer palco era lugar para as pessoas colocarem suas ideias".

"Depois os yuppies foram tomando o poder, tudo foi ficando muito clean e muito chato", analisa.

Ela também começou a ver o teatro de humor afundar nos estereótipos: "Todo gay era ridículo, toda mulher era loura-burra, todo português, idiota. Não é possível, isso é um humor que desagrega".

Ela vê, ainda hoje, vicejar um humor "de piadas velhas, machista, misógino, racista. E tem gente que ainda diz: 'oh, como é transgressor!'".

O que ela quer ver e fazer é teatro de humor com mais profundidade. "Quero trazer mais conhecimento, mais sofisticação de ideias, coisas originais e relevantes. Se ninguém está fazendo, quero propor. Sou metida mesmo."

TERÇA INSANA - ADIÓS AMIGOS
QUANDO sex. (19) e sáb. (20), às 21h; dom. (21), às 20h
ONDE Teatro Bradesco, r. Turiassu, 2.100, 3º piso, tel. (11) 3670-4100
QUANTO de R$ 30 a R$ 120
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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