Folha de S. Paulo


Crítica: Boa composição de protagonista segura trama imprevisível

Em "As Duas Faces de Janeiro", thriller dirigido por Hossein Amini, há algo que podemos intuir logo de cara, mesmo sem saber do que se trata o filme: a origem é um livro de Patricia Highsmith (1921-1995).

As obras da escritora já foram matéria-prima para filmes essenciais como "Pacto Sinistro", de Alfred Hitchcock, e "O Amigo Americano", de Wim Wenders, mas outros diretores beberam nessa fonte, incluindo Claude Chabrol, René Clément e Anthony Minghella.

"As Duas Faces de Janeiro", com locações paradisíacas (Grécia e Turquia), é o tipo de filme em que ninguém é confiável, e a trama gira em torno de equívocos e despistes, bem a gosto de Highsmith.

Divulgação
Kirsten Dunst e Viggo Mortensen em cena do filme 'As Duas Faces de Janeiro'
Kirsten Dunst e Viggo Mortensen em cena do filme 'As Duas Faces de Janeiro'

Estamos em 1962. Chester (Viggo Mortensen), um consultor econômico de meia idade, passeia pela Grécia com Colette (Kirsten Dunst), sua jovem esposa.

Num belo dia, conhecem Rydal (Oscar Isaac), jovem americano que vive de enganar turistas. Rydal se interessa por Colette e se oferece para acompanhar o casal.

Logo tem início uma série de inversão de expectativas, à maneira dos filmes de Robert Aldrich ("Os Doze Condenados", por exemplo), quando as aparências desmoronam e a trama se torna cada vez mais imprevisível.

Viggo Mortensen compõe muito bem seu personagem. É ao mesmo tempo culpado e inocente, vítima e enganador, uma fraude humana tão evidente que pode até conquistar nossa simpatia.

Muito disso passa por sua habilidade na atuação, e não seria exagero apontar que "Marcas da Violência", obra-prima de David Cronenberg, foi o trampolim que o levou de galã exótico a verdadeiro ator.

Kirsten Dunst e Oscar Isaac meio que cumprem tabela, um pouco porque seus personagens são dramaturgicamente mais frágeis (sobretudo Dunst, meio perdida como a esposa).

Hossein Amini é iraniano radicado na Inglaterra. Estabeleceu-se como roteirista ("Drive", "47 Ronins", entre outros) e realiza aqui seu primeiro longa como diretor.

Seu trabalho é bom, mas alterna momentos de mise-en-scène clássica com um vício típico do cinema contemporâneo: a câmera nervosa.

AS DUAS FACES DE JANEIRO
(The Two Faces of January)
DIREÇÃO Hossein Amini
ELENCO Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Oscar Isaac
PRODUÇÃO Inglaterra/França/EUA, 2014, 12 anos
AVALIAÇÃO bom


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