Folha de S. Paulo


Novo curador da Bienal quer 'ver o mundo a partir do sul'

Jochen Volz, o curador da próxima Bienal de São Paulo, é um sujeito delicado. Não gosta de pronunciamentos bombásticos, fala baixo e evita chamar a atenção. É um gentleman num mundo da arte cada vez mais histérico.

Um dos curadores do Instituto Inhotim, o museu do magnata do minério Bernardo Paz no interior de Minas Gerais, e diretor de programação da Serpentine, em Londres, o alemão já esteve à frente da Bienal de Veneza e ajudou a organizar a 27ª Bienal de São Paulo, há oito anos.

Sua escolha para comandar a mostra paulistana, a segunda mais tradicional do mundo, só atrás de Veneza, acaba de ser definida e já desencadeou uma onda de especulações sobre o que deve fazer.

Divulgação
O curador alemão Jochen Volz, que estará à frente da próxima Bienal de São Paulo
O curador alemão Jochen Volz, que estará à frente da próxima Bienal de São Paulo

"Minha ideia de exposição sempre tem o envolvimento bem forte do artista", diz Volz, 43, em entrevista à Folha. "Criamos projetos a partir de conversas. É isso que pode ser esperado. Tenho uma crença forte nas obras de arte."

De fato, ele está acostumado a ver obras surgirem passo a passo. Viu cada detalhe da construção das instalações do dinamarquês Olafur Eliasson, que fez uma série de mostras em São Paulo há três anos, e ajudou a implantar muitos dos pavilhões de Inhotim, transformando o pasto numa espécie de Disneylândia delirante da arte contemporânea.

"Mas não é uma questão de escala", diz. "É dar mais importância à voz do artista."

Seu interesse parece estar mesmo na construção, não na natureza espetacular de alguns trabalhos. Talvez por isso trabalhe muito com artistas que transformam o espaço com obras de pegada arquitetônica, como as de Renata Lucas, Sara Ramo, Marcius Galan, Rivane Neuenschwander e Cildo Meireles.

Esses dois últimos, aliás, inauguraram o longo namoro de Volz com o Brasil –ele levou obras deles a Frankfurt, quando dirigia um museu na cidade há dez anos, e depois veio viver no país, onde se casou com Neuenschwander.

"Não sou brasileiro, mas a parte mais importante da minha formação aconteceu aqui", diz Volz, que hoje vive entre Londres e Belo Horizonte. "Sinto que a minha casa como profissional é o Brasil."

EQUILÍBRIO

Mesmo com os pés firmes no país, o trânsito internacional de Volz, respeitado no circuito global, é estratégico para a Bienal de São Paulo, que agora tenta encontrar um equilíbrio entre projetos de estrangeiros ao mesmo tempo em que pretende voltar a ser a maior vitrine da arte contemporânea brasileira.

Depois de duas edições criadas por nomes de fora, o britânico Charles Esche e o venezuelano Luis Pérez-Oramas, a escolha de Volz agrada tanto os que querem a volta de um curador mais em sintonia com o Brasil e os que almejam maior impacto global para a Bienal de São Paulo.

"Essa é a maior bienal do sul do mundo, tem uma relevância geopolítica", diz Volz. "É diferente olhar para o mundo daqui do que olhar a partir de Veneza. Tem a possibilidade de criar diálogos entre artistas do mundo todo com um olhar do sul."

Volz também sabe que terá de reforçar o diálogo com o público da Bienal, que vem caindo nos últimos anos. A última edição, encerrada na semana passada, teve 472 mil visitantes, uma queda de 9% em relação à edição de 2012, que levou 520 mil ao Ibirapuera.

"É interessante achar maneiras de fazer uma exposição falar com todo mundo", diz Volz. "Isso tem a ver com uma abertura maior, convocar energias que surpreendam."


Endereço da página: