Folha de S. Paulo


Sérgio Mallandro se agarra ao humor de escatologia e caretas

Não é "stand up", que virou rótulo para qualquer coisa, nem comédia ou teatro, propriamente. Mas Sérgio Mallandro abre seu programa de auditório recordando, com orgulho, os primeiros passos no Tablado, tradicional escola de interpretação do Rio. Era então Sérgio Cavalcanti, 17 anos.

Ele teria aprendido lá seu histrionismo ou, para ser descritivo, o humor adolescente de escatologia e caretas que o segue até hoje, aos 59, boné de helicóptero na cabeça. Teria ouvido de um professor: "Faz cara de sério. Agora, cara de felicidade. Agora, cara de cu! Cara de cu triste!".

São duas horas de grosseria repetitiva, piadas sobre órgão sexual, posição sexual, opção sexual, até "pedofilia", palavra que ele mesmo usa. Apela sem parar à muleta da celebridade televisiva, sua e de outros. Fala das "bolas do Silvio Santos". A plateia, composta em sua maioria por casais, mas também famílias com adolescentes e crianças, ri descontroladamente.

Lenise Pinheiro/Folhapress
Sérgio Mallandro na apresentação de seu show em São Paulo
Sérgio Mallandro na apresentação de seu show em São Paulo

O formato é adaptado de programa de TV, com o que acontece costumeiramente, sem restrição de linguagem: o animador faz seus números e danças, avança pela plateia, ridiculariza descendente de japoneses, chama três dezenas de pessoas ao palco para se humilharem numa competição, encena pegadinha que permite humilhação maior –e sem risco de processo.

Mallandro, que já precisou se desculpar pela homofobia de suas "pegadinhas" encenadas, declara não ser preconceituoso, para em seguida soltar piada sobre excesso de homossexuais no Rio –o que estaria levando cariocas a dizerem: "Eu também tenho cu!". Risos, gargalhadas.

Como mostra ao manipular o público que ocupou quase todo o teatro Bradesco, de 1.439 lugares, em apresentação única em São Paulo, Sérgio Cavalcanti tem carisma. O problema maior talvez seja seu desperdício com conteúdo apelativo, que julga tão baixo seu próprio público.

Poderia ter sido outra coisa, quem sabe, com uma dramaturgia aprimorada e com um pouco mais de coragem.

STAND UP DO MALLANDRO
QUANDO sex. e sáb., às 23h
ONDE Teatro dos Grandes Atores, av. das Américas, 3.555, Barra, Rio; tel: (21) 3325-1645
QUANTO R$ 90
AVALIAÇÃO regular


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