Folha de S. Paulo


Dança contemporânea do país é mais autoral, dizem coreógrafos

Em 15 anos, 136 coreógrafos brasileiros desenvolveram projetos patrocinados pelo programa Rumos Dança, do Itaú Cultural. Nesta terça (2), um recorte desses trabalhos —e da dança brasileira no século 21— pode ser visto na sede da instituição, em São Paulo.

A mostra Rumos Legado Dança #Sampleado reúne 17 desses criadores, que foram convidados a criar, justamente, "samples" —pequenos trechos coreográficos que contêm pistas da essência de sua criação, podendo ou não ser utilizados em outras obras.

"Pedimos para os artistas pegarem elementos de sua dança para colocar na roda, para outras gerações. Se, no futuro, um ser de outro planeta acessar um desses samples', ele vai entender a arte deste nosso tempo", diz o coreógrafo piauiense Marcelo Evelin, um dos curadores da mostra.

Davi Ribeiro/Folhapress
Os coreógrafos Wagner Schwartz, Georgia Lengos e Luis Ferron, que participam da mostra
Os coreógrafos Wagner Schwartz, Georgia Lengos e Luis Ferron, que participam da mostra

E o que é a dança deste tempo, neste país? Evelin reluta em responder na lata à pergunta, mas diz à Folha que já dá para notar características que permeiam os trabalhos.

"A criação hoje está centrada na ideia de fazer existir algo que não existia antes. Até a dança moderna [fim do século 19, início do 20], a ideia era reproduzir o que fosse mais parecido com determinada escola ou linha seguida –a de Martha Graham, a de Rudolf Laban e assim por diante", diz Evelin.

"Antes, a dança vinha de fora para dentro. Agora, é você que cria seu registro", diz Georgia Lengos, que na quarta (3) "sampleará" seu trabalho com crianças, "que têm um corpo mais aberto, que tece relações inusitadas".

Mas mesmo com essa, digamos, liberdade, os criadores contemporâneos conhecem muito bem as fontes onde bebem, ou os fizeram chegar onde estão –os movimentos da dança que, a partir do século 20, romperam padrões das "belas artes".

"Eu gosto de olhar para trás e para os lados, conhecer as referências que me fazem pensar no que estou produzindo", diz o coreógrafo Cristian Duarte. Pensar e especular, aliás, é algo de que estes bailarinos gostam muito, e não é à toa que a dança contemporânea tem a fama de cabeçuda.

corpos políticos

Os bailarinos contemporâneos mostram novas possibilidades de existir, segundo Sonia Sobral, do Itaú Cultural, também curadora da mostra. "São corpos políticos, no sentido que se posicionam no mundo e colocam as questões como identidade ou relações sociais", diz.

O bailarino Wagner Schwartz, que faz "sample" na sexta (5), afirma que "sobrou para a dança tocar de perto em assuntos perigosos: perversidades, costumes, sexo".

De perto mesmo, já que boa parte da dança contemporânea está tirando o público da plateia e trazendo-o para o palco ou espaços alternativos,

A mostra, no entanto, será no palco italiano, convencional. "Esse espaço não compreende minha obra", diz Luis Ferron, que, no sábado (6), fará um "relato performativo" de seu trabalho, que diz ter mais a ver com terreiros e raves, "onde as relações se estabelecem".

Para Cristian Duarte, mostrar certo tipo de trabalho num "teatrão" é colocar a liberdade criativa dentro da caixinha. Por isso, vai mostrar um "sample" com certa ironia, em que utilizará tubos de ensaio (amostras, ou "samples", em inglês), na sexta.

RUMOS LEGADO DANÇA #SAMPLEADO
QUANDO de 2/12 a 7/12; ter. a sáb., às 20h; dom., às 19h
ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149, tel. (11) 2168-1776
QUANTO grátis (ingressos distribuídos com 30 min. de antecedência)
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


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