Folha de S. Paulo


Sentimentalismo marca shows da segunda noite do festival Popload

No palco e na plateia, os shows da segunda noite do Popload Festival, em São Paulo, foram marcados pelo sentimentalismo e pela entrega emocional.

A noite de sábado (29) abriu, por volta das 19h, com Marcelo Jeneci mostrando especialmente as composições de seu disco mais recente, "De Graça". As letras confessionais, de quem fala de paixão pela vida, no entanto, não foram ouvidas por muitos. O Audio Club, casa de shows na Barra Funda, ainda estava só com metade da pista lotada diante do palco principal.

Em seguida, com o público já disputando espaço —segundo a organização, 3.500 pessoas foram ao evento—, a cantora americana Cat Power fez sua segunda apresentação no festival, ocupando o horário que originalmente seria da banda Beirut —o grupo, contudo, cancelou a turnê há duas semanas.

Livre de xingamentos da plateia —o primeiro show, na sexta (28), acabou com a artista devolvendo um "fuck you" que ouviu vindo de alguém no público—, a cantora não ficou imune, porém, a conversas paralelas na multidão, mas em menor escala que na noite anterior. Nessas horas, os fãs acionavam gritos de "shhhhh".

Vestindo uma camiseta do filme "Taxi Driver" (1976), sozinha no palco, Cat Power repetiu a estrutura de começar com voz e guitarra, ir ao piano e finalizar voltando à guitarra. Além de ajustes técnicos no som —alvo de sua preocupação já na sexta—, desta vez, a cantora passou a apresentação muito angustiada com o próprio desempenho.

Pediu desculpas diversas vezes e parecia nervosa no intervalo das canções —chegou a provocar um estrondo ao esbarrar a mão no microfone.

Durante a execução, porém, a entrega ao cantar suas mensagens melancólicas foi total, intensa como a reação da plateia. Em um momento, chegou a improvisar versos e, depois, confessou estar fazendo uma homenagem a Kurt Cobain (1967-94) ao cantar "I Don't Blame You".

Chan Marshall —como também é conhecida— tentou conversar com os fãs o máximo que pôde, ainda que falasse distante do microfone, prejudicando a compreensão. Lembrou à plateia que está grávida, que se sente cansada e que sofre da abstinência de cigarros e maconha.

Antes de sair do palco, ainda pediu mais tempo. "Podem levar as coisas, só quero conversar um pouco mais com as pessoas", disse à produção.

"Vocês lembram o que eu estava falando? Alguém pode me lembrar?", assim retomou a conversa, que acabou com a frase "Cuide das pessoas que te amam, não só daquelas que você ama, mas das que amam você".

Fabricio Vianna/Divulgação
Os músicos Wesley Schultz e Jeremiah Fraites, da banda The Lumineers, tocam no meio do público do festival Popload
Os músicos Wesley Schultz e Jeremiah Fraites, da banda The Lumineers, tocam no meio do público

CELEBRAÇÃO

Na sequência, nervos à flor da pele também deram o tom do show da banda americana The Lumineers, em sua primeira passagem pelo Brasil.

Com letras em geral românticas, quase inocentes, e batida folk animada, o grupo deixou os fãs fervendo, em estado de devoção.

O hit "Ho Hey" foi cantado em coro pela casa cheia, como num grande karaoke. A banda reservou também tempo para um cover de "Subterranean Homesick Blues", de Bob Dylan.

O ponto alto em emoção, porém, veio em "Flapper Girl", interpretada com o vocalista Wesley Schultz e o baterista Jeremiah Fraites no meio da plateia, em um pequeno tablado, bem colados aos fãs.

Em seguida, de volta ao palco, o sucesso "Stubborn Love" puxou outro coro forte. Desta, os versos do refrão ("Keep your head up, my love") foram cantados também pelo público final do show, na tentativa de pedir um bis que não veio.

Fabricio Vianna/Divulgação
A banda britânica Metronomy no palco do Audio Club, no festival Popload
A banda britânica Metronomy no palco do Audio Club, no festival Popload

MAIS AMOR

Para fechar o festival, o grupo britânico Metronomy, principal atração da noite, não baixou o nível de fofura nem de intensidade.

"É a primeira vez que vejo alguém quebrar uma meia lua", disse o vocalista Joseph Mount, com uma parte do instrumento em mãos, depois arremessada para a plateia, que dançava em clima de balada —incentivada pelas coreografias do baixista Olugbenga.

Diante de um cenário formado por nuvens rosas e brancas, lembrando algodão doce, a banda se apresentou com todos os músicos usando figurino igual: calça clara, camisa escura.

No repertório, misturaram músicas do disco mais recente, "Love Letters" —como a faixa-título, "I'm Aquarius", "The Upsetter" e "Reservoir"—, e canções de seus outros três CDs.

O coro do público também veio —claro— em cover de "Here Comes the Sun", dos Beatles, puxado na voz do guitarrista Oscar Cash.

Para o bis, que poderia ter se estendido, deixaram a hipnotizante "You Could Easily Have Me", sucesso instrumental do álbum de estreia da banda, "Pip Paine (Pay the £ 5000 You Owe)" (2006).


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