Com uma carreira de quase 60 anos, a atriz Shirley MacLaine, 80 —protagonista do longa "Elsa & Fred", que estreia nesta quinta-feira (27) no Brasil— não teme rejeições ao criticar o aspecto excessivamente comercial das produções cinematográficas atuais.
"Os estúdios têm uma mentalidade corporativa. A prioridade é trabalhar a marca, enquanto os atores fazem propaganda no tapete vermelho com suas roupas, perfumes, cabelos", diz à Folha por telefone, do Novo México (EUA).
Para ela, os melhores filmes hoje vêm do cinema independente, em que não vê essa preocupação. E vai além: ela diz que o entretenimento audiovisual de melhor qualidade está nas séries de TV.
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| Shirley MacLaine (Elsa Hayes) e Christopher Plummer (Fred Barcroft) em cena do filme 'Elsa & Fred' |
"A televisão está extraordinária. Tudo é melhor: a atuação, a história. Os personagens são mais profundos", afirma a atriz, que esteve em episódios dos seriados "Downton Abbey" e "Glee".
Quando instada a citar exemplos dessa excelência, no entanto, ela se omite.
"Assisto basicamente ao noticiário. Isso deve significar que eu gosto mais do entretenimento de terror", brinca.
Consagrada por interpretar personagens de aspecto dócil e personalidade forte, a atriz ressalta a importância que tiveram seus papéis em filmes como "Deus Sabe Quanto Amei" (1958), "Charity, Meu Amor" (1969) e "Os Abutres Têm Fome" (1970). Eram todas, segundo ela, "prostitutas com coração de ouro".
"Saber que uma pessoa que vive de sexo ainda é uma pessoa boa era importante." Ainda assim, ela diz que seu papel preferido foi o da mãe que vive uma relação de amor e ódio com a filha em "Laços de Ternura" (1983), que lhe rendeu seu único Oscar.
NOVA GERAÇÃO
MacLaine aponta um exemplo da nova geração que tem características de atuação semelhantes às suas. "Gosto de misturar drama e comédia. Talvez Jennifer Lawrence tenha um pouco disso."
Em "Elsa & Fred", remake do filme argentino homônimo de 2005, a atriz interpreta uma mulher próxima ao fim da vida que engata um romance com o vizinho, vivido pelo também veterano Christopher Plummer, 84.
"Adorei o original, essa ideia de explorar pessoas mais velhas encontrando o amor."
A química com o amigo de longa data é, segundo ela, uma das razões que fazem o filme funcionar.
A atriz descarta se afastar das câmeras. "Se não for criativa, estou morta. E eu gosto da vida, então é melhor que continue criando."