Noite no cemitério. Uma figura com vestes gregas convida o público a acompanhar "A Jornada de Orfeu", da Cia. Coexistir de Teatro. É domingo de Finados (2/11) e a reportagem está no cemitério do Redentor, em São Paulo.
A Folha acompanhou, durante um fim de semana, duas peças apresentadas fora do palco convencional, que pretendem "resignificar a cidade", no mantra destes grupos.
Apesar da falta d'água, a repórter torceu para não chover.
"Choveu, não tem espetáculo. É a dinâmica da inevitabilidade", diz Patrícia Teixeira, diretora de "A Jornada" e psicoterapeuta jungiana. Ela afirma que apresentar a peça no cemitério "põe a pessoa em contato com seus medos".
Como almas penadas, os espectadores acompanharam a trama, baseada no mito grego de Orfeu, músico que desceu ao inferno para tentar resgatar sua amada Eurídice.
Em São Paulo, o inferno foram as baratas. A psicóloga Solange Rabelo, que não conseguiu um amigo para acompanhá-la no programa ("Disseram que energia de cemitério é ruim"), gostou da experiência interativa, mas não curtiu os insetos aos seus pés.
Para ela, isso não prejudicou a parte mais interessante da experiência: sentir-se dentro de um filme com o cenário adequado à tragédia de Orfeu.
Eduardo Anizelli/Folhapress | ||
Cena da peça 'A Jornada de Orfeu', no Cemitério do Redentor, em SP |
No sábado (1º), foram exibidos clássicos gregos no Grajaú, extremo sul de São Paulo. O trajeto de quase duas horas do centro até o bairro também foi permeado pelo desejo de que não chovesse.
Pior seria para a assistente social Luana Maria da Silva, 29, que levou mais tempo para chegar de São Mateus (zona leste de SP) até a escola estadual onde começa a peça "Planeta Favela". Não choveu.
Baseada na tetralogia tebana ("Édipo Rei", "Édipo em Colono", "Sete Contra Tebas" e "Antígona"), a peça se propõe a falar do Brasil de hoje, segundo o diretor Ivan Delmanto. Para isso, leva o público de uma escola estadual à outra, com direito a "Grajaú Tour" e lanche no intervalo.
"Gostei da peça, fora as partes que não entendi", diz Luana. A partir de certa hora, fica difícil acompanhar a trama, que dura quatro horas. Aproveita-se melhor a interação com espaço público, mas fica a dúvida: o que estou mesmo fazendo aqui?
A JORNADA DE ORFEU
QUANDO sáb., às 21h; dom., às 20h; até 30/11
ONDE Cemitério do Redentor, av. Dr. Arnaldo, 1.105; tel. (11) 3082-0437
QUANTO R$ 50
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
PLANETA FAVELA
QUANDO sáb., às 18h; até 29/11
ONDE E.E. Prof. Carlos Ayres, av. Dna. Belmira Marin, 595; tel. (11) 5928-2521
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 18 anos