Folha de S. Paulo


Produção gay vive bom momento no cinema nacional; veja vídeo

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A população gay do país teve revezes em 2014, em particular com a eleição de um Congresso Nacional de perfil mais conservador, mas o ano tem sido positivo ao menos numa área: o cinema.

O Mix Brasil, maior festival LGBT da América Latina, começa nesta quinta (13) com recorde de filmes inscritos: 320 contra os 180 de 2013, segundo os organizadores. Em fevereiro, três dos quatro longas brasileiros no Festival de Berlim traziam personagens gays, incluindo "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho", de Daniel Ribeiro, escolhido pelo país para tentar uma vaga no Oscar.

E o Festival de Cinema do Rio, que até 2013 contava com uma mostra do gênero, a aboliu neste ano devido ao grande número de produções gays.

"Predominava o internacional. Neste ano, a produção nacional dobrou", diz João Federici, diretor artístico do Mix, que pela primeira vez terá uma mostra competitiva de longas e médias nacionais. Ele atribui o crescimento à profusão de editais de financiamento voltados a essa temática.

Para Daniel Ribeiro, a produção LGBT pega carona no maior investimento no cinema como um todo. "São muitos os cineastas gays, e estamos falando do que vivemos", diz o diretor de "Hoje Eu Quero...", romance adolescente gay visto por 200 mil —num país em que a média para independentes não passa de 10 mil.

O ano também rendeu 133 mil de público a "Praia do Futuro", de Karim Aïnouz, que tem Wagner Moura como um salva-vidas homossexual e estreou até em shopping center, repetindo feito de "Flores Raras" (2013), de Bruno Barreto.

FESTIVAL SAFADO

Se no cinemão predominam filmes mais "comportados" como "Flores Raras" e "Praia do Futuro" —embora este último tenha cenas viscerais de amor gay—, a 22ª edição do Mix traz um boom de filmes "despudorados", com mais sexo filmado e falado, diz André Fischer, codiretor do evento. "Até parece um festival safado", brinca.

"Os filmes se desvincularam do politicamente correto, pararam de falar só em sair do armário", diz o diretor Marcelo Caetano, que exibe "Verona" no festival. "Substituíram o pedagógico pelo erótico."

O média-metragem "Nova Dubai", de Gustavo Vinagre, é um deles. O diretor interpreta um rapaz que faz sexo com peões de obra e outros desconhecidos numa trama que trata de especulação imobiliária e suicídio. "Em tempos de caretice, a exposição acaba sendo resposta", afirma Vinagre.

O longa "Batguano", de Tavinho Teixeira, usa homens nus ao mostrar a relação de Batman e Robin como duas "bichas velhas". "Os filmes estão mais explícitos, sim, e há mais poesia em tudo isso", ele diz.

TODOS OS GÊNEROS
Destaques da programação do Festival Mix Brasil

Longas internacionais
Entre os 30 estrangeiros, há "Mommy", de Xavier Dolan, sobre uma mãe e seu filho adolescente, e "Xenia", do grego Panos Koutras, sobre dois irmãos

Mostras de curtas
Além da seção competitiva, há 13 temáticas que abordam do universo lésbico ao transexual, passando por universos de fetiches, música e literatura

Show do gongo
A atriz Marisa Orth comanda o evento: é ela quem decide se os curtas devem ser exibidos até o fim ou se serão gongados

Longas e médias nacionais
Os documentários "Para Sempre Teu, Caio F.", de Candé Salles, e "Favela Gay", de Rodrigo Felha, dividem a seção com ficções como "Verona", de Marcelo Caetano, sobre ex-parceiros de um duo de dance music

Outras atrações
Além de cinema, há espetáculos de dança e teatro, como o número "Blood", do coreógrafo Jean Abreu

FESTIVAL MIX BRASIL
QUANDO até 23/11
INGRESSOS grátis ou at´R$ 27
MAIS INFORMAÇÕES www.mixbrasil.org.br

Comunidade e simpatizantes pagam meia
Quem se declarar LGBT ou simpatizante tem direito a meia-entrada nas atrações.


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