Folha de S. Paulo


Crítica: Beakman brasileiro aposta em fórmula 'mão na massa' para cativar

O sucesso dos vídeos do Manual do Mundo levou muita gente a apelidar seu criador, o jornalista Iberê Thenório, de "Beakman brasileiro". De fato, para quem foi criança ou adolescente nos anos 1990, é difícil não pensar no cientista maluco da série de TV "O Mundo de Beakman" ao ver as peripécias de Thenório em sua oficina-laboratório.

Mas a comparação é imprecisa, assim como as semelhanças entre o Manual do Mundo e outras iniciativas do mesmo tipo que pipocaram nos últimos anos, como o Ciência em Show, criado por um trio de físicos formados na USP.

A diferença mais importante talvez seja a aposta no minimalismo e a abordagem "mão na massa" de Thenório.

É claro que boa parte da molecada que era fã de "Beakman" deve ter se disposto a replicar alguns dos experimentos, mas a ênfase do programa americano, e de outros de seu gênero, era na diversão e nos personagens carismáticos (como a inesquecível cena do rato de laboratório Lester nadando em muco nasal).

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Iberê Thenório (à frente) é protagonistas da sitcom 'Experimentos Extraordinários'
Iberê Thenório (à frente) é protagonistas da sitcom 'Experimentos Extraordinários'

Já o Manual do Mundo aposta na capacidade do público de aprender fazendo.

Não é por acaso que 90% das matérias-primas usadas nos experimentos podem ser conseguidas em supermercados (num dos episódios, Thenório tem a pachorra de dizer em qual prateleira dá para encontrar bicarbonato de sódio).

Essa praticidade, se não permite efeitos muito espetaculosos, reforça a sensação de que "ei, eu consigo fazer isso!".

Os episódios não gastam muito tempo detalhando as explicações científicas dos fenômenos curiosos produzidos pelas experiências, até porque o formato é breve, mas é o suficiente para transmitir conceitos básicos que poucos dominam e despertar o interesse pelo assunto.

Talvez seja esse o segredo do êxito do Manual do Mundo: com a escassez abissal de laboratórios decentes, ou de qualquer laboratório, nas escolas brasileiras, ciência aqui é quase sempre coisa de livro didático. Sentir-se capaz de colocar a mão na massa e fazer um experimento é, além de divertido, inspirador.


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