Folha de S. Paulo


Lenise Pinheiro cria arte em fotos do Teatro Oficina

A fotógrafa Lenise Pinheiro conheceu Zé Celso Martinez Corrêa no início dos anos 1980 quando participava, como ouvinte, de um workshop do diretor na Escola da Arte Dramática da USP. A empatia foi imediata. "O que me fascinou foi como ele falava com prazer da energia do teatro", conta.

Lenise passou a acompanhar seu trabalho e capturá-lo com suas lentes. Pouco mais de 30 anos depois do contato inicial, ela lança o livro "Teatro Oficina", compilação de quase 500 fotos tiradas no teatro de Zé Celso, localizado no Bixiga, em SP.

Nascido em 1958, o grupo é um dos mais importantes do teatro brasileiro e conhecido por seus espetáculos de vanguarda. Em 1993, a trupe se instalou no teatro que ocupa até hoje, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914-92).

Cada capítulo da obra reúne imagens de uma peça, passando por espetáculos como "As Boas" (1992), com Raul Cortez, e "Cacilda!" (1998), com Giulia Gam.

"Eu vi que tinha uma sequência de trabalhos do Zé que renderia um livro", diz. "E os trabalhos foram agrupados dessa forma porque as peças são momentos e, naturalmente, capítulos."

Marcelo Drummond, ator do Oficina há 28 anos, afirma que Lenise não apenas fotografa. "Ela faz obras de arte. Quando me vejo nas fotos desse livro, digo que não sou eu ali. Sou o olhar dela."

Para Zé Celso, Lenise é uma das maiores fotógrafas da história do teatro brasileiro. "Tenho uma grande admiração por ela como artista", diz. "Esse livro é uma maravilha. Vê-lo foi emocionante, e tem muita qualidade estética."

FILMAGENS E CIRURGIAS

Colaboradora da "Ilustrada" desde 1998, Lenise começou sua carreira fotografando sets de filmagem, para produtoras, e cirurgias. "Fazia fotos para um cirurgião que tratava de hemorroidas", ri.

Quando subiu no palco pela primeira vez, sentiu uma energia vinda de baixo. O diretor Odavlas Petti (1929-97) foi o primeiro a olhar seu material e dizer que não havia ali foto ruim. Lenise começou a fotografar suas peças e continuou, desde então, a se dedicar ao teatro.

Registrar peças tem lá seus desafios. "Perco muitas fotos tentando ser discreta", afirma. "Se eu dou prioridade à encenação não posso fotografar determinadas passagens."

O público também pode derrubar uma imagem. "Às vezes vou registrar uma cena dramática e tem alguém com uma camiseta do Mickey", brinca. "Adoro quando toca um celular, porque com o barulho não vai ser meu cliquezinho que vai fazer diferença!"

Coautora, com Nelson de Sá, do blog de teatro "Cacilda", no site da Folha, Lenise está sempre em busca de novos espetáculos. "Passo na frente de um teatro e entro para ver. Tem sempre algo acontecendo."

TEATRO OFICINA
AUTORA Lenise Pinheiro
EDITORA Imprensa Oficial
QUANTO R$ 160 (472 págs.)


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