Folha de S. Paulo


Projeto atrai 'estranhos' dispostos a falar à câmera

"Olá, venha aqui e fale com estranhos" diz a placa, em amarelo vivo, instalada em algum lugar de São Paulo. Dezenas atenderam ao chamado heterodoxo e, à câmera, contaram histórias.

O resultado do projeto da jornalista Adriana Negreiros e do diretor de arte Daniel Motta começou a ser exibido no site falecomestranhos,com.br e num canal do YouTube nesta segunda (3), ampliando a plateia potencial de estranhos que querem ouvir, por exemplo, as angústias da estranha Cláudia.

Em frente ao Masp, na av. Paulista, Cláudia contou as complexidades de manter um relacionamento aberto: "O desejo é tão natural do ser humano que bloquear isso também é uma repressão que custa caro". Já Ricardo, no mesmo cenário, contou como é para ele ouvir o pai insistir em conversar com ele sobre mulheres, mesmo depois de ele dizer que é gay.

Segundo Adriana, a ideia é exibir um filmete novo, com depoimento de três minutos, todos os dias pelo menos por um ano. O projeto também viajará pelo Brasil, com paradas já programadas para o Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Fortaleza. No futuro, vai virar livro e um longa.

Reprodução/Facebook/falecomestranhos
Placa utilizada para 'atrair estranhos', em filme de Adriana Negreiros e Daniel Motta
Placa utilizada para 'atrair estranhos', em filme de Adriana Negreiros e Daniel Motta

REFERÊNCIAS

As referências principais para "Fale com Estranhos" foram duas: a trajetória do documentarista brasileiro Eduardo Coutinho (1933-2014) e um trabalho do cineasta americano David Lynch. Entre 2009 e 2010, Lynch coordenou projeto semelhante, o "Interview Project", gravando pessoas comuns nos EUA.

A potência provocada pelo voyerismo da vida comum do projeto lembra também o simpático Humans of New York, que fotografa e conta histórias de habitantes de Nova York.

"Como se vê, somos metidos", brinca Adriana, que trabalhou por anos nas revistas da Editora Abril antes de fundar uma produtora.

Na obra de Coutinho, o cineasta estabelecia uma "regra do jogo" para suas filmagens: serão ouvidos moradores de um prédio em Copacabana ("Edifício Máster") ou ouviremos as mulheres que atenderam um anúncio no jornal ("Jogo de Cena"). Em "Fale com Estranhos", a regra é ouvir quem quer desobedecer o conselho dos pais, de evitar contato com o desconhecido.

"A gente não chama ninguém. Colocamos o cartaz na verdade, um cavalete em um ponto qualquer. Sentamos cada um num banquinho e aguardamos. O massa é que a gente não fica sozinho um minuto. As pessoas estão carentes, querem falar", diz Adriana.


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