Folha de S. Paulo


'Não queria quebrar o museu', diz Ivo Mesquita antes de deixar a Pinacoteca

Depois do anúncio oficial de sua saída da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Ivo Mesquita, que deixará o cargo de diretor artístico do museu em fevereiro do ano que vem, minimizou o peso que atritos entre ele e outros diretores e questões orçamentárias tiveram na sua demissão.

Em entrevista à Folha, Mesquita, que está há 12 anos na Pinacoteca, sendo os dois últimos como diretor artístico, disse que chegou a um acordo com o conselho administrativo do museu e que pôs seu cargo à disposição, negando que tenha sido demitido pelo presidente do grupo, o colecionador José Olympio Pereira.

"Não tem lobo mau. Tudo foi muito conversado. Estou muito satisfeito, não tenho nada a contestar", diz Mesquita. "É sabido que havia diferenças minhas com o diretor financeiro e administrativo, mas nada demais. Hoje até almoçamos juntos."

Bruno Poletti/Folhapress
O curador Ivo Mesquita em coquetel de abertura da exposição de Mira Schendel, em julho
O curador Ivo Mesquita em coquetel de abertura da exposição de Mira Schendel, em julho

Mesquita se refere a Miguel Gutierrez, ex-diretor financeiro da Pinacoteca, que deixou o cargo há um mês para assumir uma posição semelhante no Masp, museu que também passa por uma ampla reforma administrativa.

Segundo Mesquita, a saída de Gutierrez "acelerou certos processos" dentro do museu, até que "chegou a hora de renovar tudo". A partir de fevereiro, Mesquita será substituído no cargo pelo professor e curador Tadeu Chiarelli, ex-diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP.

Conselheiros ouvidos pela Folha, no entanto, dão outra versão dos fatos, alegando que as divergências de Mesquita com os demais diretores do museu, que dividem até agora poder igualitário na condução da instituição, havia chegado a um ponto insustentável e que o estopim para a sua demissão foi sua relutância em diminuir o orçamento proposto para o ano que vem.

"Desavenças por questões de orçamento existem todo ano. A gente sempre imagina a programação de um jeito, e ela tem de se adequar depois à capacidade de captar recursos", diz Mesquita. "Esse ano que passou foi difícil, e o ano que vem vai ser mais difícil ainda. É algo normal, mas nada que vá quebrar o museu. Eu não queria quebrar o museu."

Na programação do ano que vem, aliás, já estão confirmadas mostras dos artistas brasileiros José Resende, Nelson Félix e Nuno Ramos, do cubano Carlos Garaicoa e do irlandês Sean Scully, sendo que o orçamento pretendido para a programação diminuiu de R$ 15 milhões para R$ 11,2 milhões.

Mesquita também reclamou da falta de tempo para se dedicar à curadoria de exposições. "A gestão é uma espécie de serviço militar. É obrigatório", comparou, acrescentando que a partir de fevereiro do ano que vem, quando deixar a Pinacoteca, vai se dedicar ao trabalho de curador independente. "É como aquele ditado que diz: 'Eu era feliz e não sabia'."


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