Folha de S. Paulo


Crítica: Retrato delirante da existência encontra poesia no cotidiano

Apesar de "Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência" ser a última parte da trilogia formada por "Canções do Segundo Andar" (2000) e "Vocês, os Vivos" (2007), o filme do prestigiado diretor sueco Roy Andersson, 71, pode ser saboreado de forma isolada.

Principalmente porque não há uma narrativa linear. A comédia, vencedora do Leão de Ouro no último Festival de Veneza, utiliza Sam (Nils Westblom) e Jonathan (Holger Andersson), dois melancólicos vendedores de produtos de festas à fantasia, como ponto de conexão entre quase 40 historietas curtíssimas e, assim, mostra um retrato absurdo, variado e delirante da existência humana.

Há o senhor que morre depois de pagar pela refeição em um cruzeiro, a professora de flamenco que assedia um aluno, trocas de gentilezas pelo telefone com um fundo trágico (macacos testados em laboratórios, um velho prestes a se matar). E por aí vai.

Divulgação
Cena do filme 'Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência'
Cena do filme 'Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência'

Andersson diz ter se inspirado na pintura "Caçadores na Neve", de Pieter Bruegel, "o Velho" (1525-1569), que mostra pássaros observando a vida de uma vila. Mas não há como deixar de lembrar dos quadros do Monty Python em alguns momentos.

Tempo e espaço não importam para o cineasta, assim como não importa para a trupe inglesa, que colocou um policial investigando um crime na Idade Média ("Em Busca do Cálice Sagrado") ou óvnis nos tempos de Cristo ("A Vida de Brian").

Aqui, o sueco cria um bar moderno que serve de parada para a campanha do rei Carlos 11, da Suécia, contra os russos.

Tudo é válido para que Andersson, em suas tomadas estáticas, coloridas e distantes, encontre poesia no cotidiano. Só que, ao contrário de seu conterrâneo Ingmar Bergman, ele parece crer que somente rindo de nós mesmos e de nossas ansiedades ridículas é que encontraremos a saída da involução humana.

UM POMBO POUSOU NUM GALHO REFLETINDO SOBRE A EXISTÊNCIA
(EN DUVA SATT PÅ EN GREN OCH FUNDERADE PÅ TILLVARON)
DIREÇÃO Roy Andersson
PRODUÇÃO Suécia/Alemanha/Noruega/França, 2014, 16 anos
MOSTRA dom. (26), às 18h50, no Espaço Itaú - Frei Caneca; seg. (27), às 22h15, no CineSesc
AVALIAÇÃO ótimo


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