Folha de S. Paulo


João Ubaldo saúda o Rio em livro póstumo

Um lançamento como "Noites Lebloninas" (Alfaguara) só pode ser saudado como uma das melhores notícias dos últimos tempos. Afinal, se trata de livro póstumo do romancista João Ubaldo Ribeiro, autor de obras-primas como "Viva o Povo Brasileiro", que morreu em julho deste ano, aos 73.

Aos saudosos de suas crônicas, publicadas no "Estado de S. Paulo" e no "Globo", o livro é um prato cheio. O senso de humor característico, e o livre trânsito entre o erudito e o popular, com direito a citação de neologismos criados a partir da fala do povo —no caso, a dos cariocas— aparecem em sua melhor forma.

Logo no prefácio, o poeta e roteirista Geraldo Carneiro, amigo de longa data e conhecedor profundo da obra de Ubaldo, diz a que veio o livro. Ubaldo morava no Leblon havia 20 anos e acalentava o sonho de escrever uma ficção passada no bairro.

O escritor mantinha amizade com donos de banca, funcionários de farmácia, fruteiros, pequenos comércios e seus frequentadores. Além de ser calorosamente acolhido nos bares. Era uma espécie de celebridade do bairro.

"João Ubaldo poderia dizer que o mundo confina ao norte com o Jardim de Alá, ao sul com a padaria Rio-Lisboa, a leste com o oceano Atlântico e a oeste com o botequim Flor do Leblon", escreve Carneiro.

Conta ele que a inspiração inicial de Ubaldo foi a obra do escritor americano Damon Runyon (1880-1946). Considerado o principal cronista do submundo da Broadway, Runyon criou vários personagens da Nova York marginal dos anos da depressão.

O narrador de "Noites Lebloninas" é um porteiro de um edifício de classe média alta, vindo da Bahia, como o autor, e que adota o Rio como sua segunda pátria, de onde não sai "nem deportado".

Carneiro descreve como se dava o processo de criação do autor. Escolhia o título primeiro, depois a epígrafe, e daí iniciava a narrativa. "Parece simples, mas não é. A maior parte dos escritores faz planos meticulosos sobre como construirá sua narrativa. Só depois de avaliar e planejar toda a arquitetura inicia a travessia".

Noites Lebloninas
João Ubaldo Ribeiro
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Ubaldo trabalhava nos contos de "Noites Lebloninas" quando morreu. Dois contos estavam prontos e são eles que estão sendo publicados, "Noites Lebloninas" e "O Cachorro Falafina e seu Dono Dagoberto".

Muito resumidamente, o clímax do primeiro, se assim se pode dizer, trata de uma farra etílica em meio a uma suruba na suíte master de um motel, decorada à moda Tudor, remetendo a "Budas Ditosos" e por que não, à "Pornopopeia" de Reinaldo Moraes. O segundo é sobre as aventuras de um cão farejador que a certa altura é abandonado por seu dono.

Paralelamente a "Noites Lebloninas", a Alfaguara está lançando uma nova edição de "Viva o Povo Brasileiro", contando com introduções de fôlego assinadas por Rodrigo Lacerda e Geraldo Carneiro.

NOITES LEBLONINAS
AUTOR João Ubaldo Ribeiro
EDITORA Alfaguara
QUANTO R$ 24,90 (104 págs)


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