Folha de S. Paulo


Crítica: Entrevistas fascinantes tentam entender Jia Zhangke e seu contexto

"O Mundo de Jia Zhangke", organizado por Walter Salles e Jean-Michel Frodon, divide-se basicamente em três partes: as entrevistas com o cineasta chinês; a análise de seus filmes e as entrevistas com seus principais colaboradores; os dois prólogos e um epílogo, o capítulo "A Arquitetura de Jardins Chinesa", de Cecília Mello.

Todo o livro é um questionamento sobre o lugar do cinema de Zhangke no mundo. A pergunta não se limita ao simples interesse por seus filmes. Ela se liga, inevitavelmente, ao lugar de onde esses filmes provêm, a China.

A China e sua história recente cheia de surpresas, que vão do atraso do século 20 ao progresso vertiginoso no início do século 21, da repressão na Revolução Cultural às contradições de uma abertura não raro dolorosa, passando por um cinema que exprime essa sociedade que nos espanta.

Divulgação
O cineasta chinês Jia Zhangke, ao centro, com bandeja
O cineasta chinês Jia Zhangke, ao centro, com bandeja

Um dos aspectos mais fortes do livro é tentar entender o cineasta e o mundo que o cerca e incide sobre sua obra. Uma parte fascinante das entrevistas será de interesse mesmo daqueles que não se interessam por cinema, e diz respeito à formação de Zhangke: os problemas por que passou sua família, a formação de um artista na China etc.

As entrevistas compõem um painel geracional fascinante: como um grupo de pessoas interessadas em arte cresce e se desenvolve em meio à repressão não é um dos aspectos secundários. O contrabando de filmes estrangeiros (Bresson, Antonioni, De Sica) é um aspecto decisivo dessa formação.

O apanhado crítico dá conta da maneira como Zhangke dirige seu olhar a essa China, num embate com o real que dispensa os grandes recursos. "Acho que sobreviver é o tema de todos os meus filmes. O que quer que padeçamos, precisamos sobreviver", diz.

Se há um filme em que a inserção do artista no mundo e sua aceitação internacional não se limitam ao interesse que se possa ter pela China, este é "O Mundo".

O mundo de que fala o filme é um grande parque em Pequim, onde se pode circular por várias cidades "sem sair de Pequim", conforme se anuncia. Há aí um quê da vida chinesa. E também um quê de globalização.

O MUNDO DE JIA ZHANGKE
ORGANIZAÇÃO Jean-Michel Frodon e Walter Salles
TRADUÇÃO Eloísa Araújo Ribeiro
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 59,90 (256 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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