Folha de S. Paulo


Curta 'Domingo' reinterpreta obra de Olafur Eliasson

Um casal atravessa uma cortina de névoa, que transforma um galpão em abismo esbranquiçado. Em algum momento, eles se separam. Talvez um domingo.

Essa separação, que se dá num dia vazio de descanso, norteia o novo curta "Domingo", do cineasta Karim Aïnouz sobre a obra do artista plástico dinamarquês Olafur Eliasson, uma delas a sala da neblina.

No filme, o cineasta documenta os trabalhos que Eliasson mostrou em São Paulo há três anos, como as bicicletas com espelhos no lugar das rodas e as instalações no Sesc Pompeia e Belenzinho e na Pinacoteca.

Quando viu a cachoeira artificial montada no pátio do Sesc Pompeia, Aïnouz entendeu que seu filme teria de se passar num domingo, ou melhor, dez domingos ao longo do ano que se sucedem como narrativa meio melancólica.

"É a ideia de um dia vazio e um cinema mais abstrato, menos descritivo", diz.

A história do tal casal se dá nas entrelinhas, sem diálogos. No lugar de um roteiro convencional, Aïnouz escreveu textos com Felipe Bragança, que aparecem intercalados entre imagens de obras e vistas de São Paulo.

Os textos entraram depois que o filme já estava pronto. "Senti a falta de um perfume, um fiapo narrativo", diz Aïnouz. "Imaginei que o filme é a história daquele casal perdido na névoa, o que dá esse calor narrativo."

No caso, só um calor, já que a economia formal é grande. Da obra de Eliasson, famoso pelo uso intenso da luz, Aïnouz emprestou as cores intensas.

"Comecei a pensar no filme como uma conversa orgânica entre o meu trabalho e o dele", conta ele.

Tanto que "Praia do Futuro", longa que Aïnouz estreou neste ano e que foi montado em paralelo ao novo curta, acabou ganhando algumas das cores intensas da obra de Eliasson, como a cena numa discoteca toda iluminada de vermelho.

"Tem mesmo um eco com o meu trabalho, nesse descolar da imagem de sua descrição", diz Aïnouz. "Esse encontro com ele vai contaminar a maneira como penso a narrativa daqui para frente."


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