Folha de S. Paulo


Com cartas, Adriana Falcão reconta a história dos pais

Depois que Caio e Maria Augusta morreram, as cartas que trocaram durante toda a vida ficaram mais de duas décadas encerradas num baú.

Adriana Falcão, 54, filha do casal e herdeira da arca, preferia não lidar com o conteúdo. O final, difícil, ela conhecia bem –o pai se despediu em carta de 7 de agosto de 1978, um dia antes de cometer suicídio, e a mãe morreu 13 anos depois, de overdose de álcool e remédios.

Há três anos, com as duas irmãs mais velhas, a escritora e roteirista tomou coragem para enfrentar aquelas memórias, e o que encontrou, percebeu, renderia um livro. O resultado é "Queria Ver Você Feliz" (Intrínseca), que terá noite de lançamento em São Paulo na próxima sexta.

Divulgação
Maria Augusta e Caio em 1953, no dia do casamento
Maria Augusta e Caio em 1953, no dia do casamento

Divulgado pela editora como "o primeiro livro de não ficção de Adriana Falcão", "Queria Ver Você Feliz" fica, na verdade, no meio do caminho entre uma reunião de cartas e um romance. Difícil considerá-lo uma não ficção, levando em conta que é narrado por Eros, o amor.

Para Adriana, autora de livros como "A Máquina" (Objetiva, 1999) e "O Homem que Só Tinha Certezas" (Objetiva, 2010), e roteirista de séries como "A Grande Família", a opção narrativa foi a forma encontrada de se distanciar.

"Tinha medo de, falando na minha pessoa, como filha, resvalar em clichês. Inventei esse personagem, o amor, que é muito arrogante, muito duro, meio grossão, afastando-se completamente da maneira romântica como eu contaria a história", diz.

Caio e Maria Augusta se conheceram em maio de 1947, ele aos 15 anos, e ela, 14, quando ele foi com amigos paquerar perto da Fonte da Saudade, na zona sul do Rio, nas redondezas da casa dela.

Os primeiros bilhetes que Maria Augusta guardaria por toda a vida datam de poucos meses depois e já mostravam o humor que dela herdariam a filha e a neta Clarice Falcão, do "Porta dos Fundos".

ARSÊNICO

"Caio, querido, estou desesperada. Elas querem me mandar passar as férias em Porto Alegre! Tudo para nos afastar! Eu disse para a mamãe e para a titia que se elas me obrigassem eu tomaria meio copo de arsênico, mas estou repensando. A morte por gás deve ser mais agradável", anotou a adolescente.

Queria Ver Você Feliz
Adriana Falcão
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Entre crises e declarações, os dois se casaram em 14 de novembro de 1953, após um ultimato dela, que pôs a aliança de noivado na boca e ameaçou engolir com um gole de Coca-Cola se ele continuasse adiando a cerimônia.

Ao nascimento da primeira filha, se seguiu uma crise de ansiedade de Maria Augusta, que culminaria com a internação dela. Tempos depois, Caio teve depressão.

Os altos e baixos do casal, que amadurece junto e passa cada vez mais a se apoiar, em vez de brigar por bobagens, dão o tom da história de amor por meio da qual Adriana, segundo diz, pôde se reinventar.

QUERIA VER VOCÊ FELIZ
AUTORA Adriana Falcão
EDITORA Intrínseca
QUANTO R$ 29,90 (160 págs.)
LANÇAMENTO dia 31 (sex.), às 19h30, na Saraiva do shopping Pátio Paulista (r. Treze de Maio, 1.947, piso Paraíso)


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