Folha de S. Paulo


Historiador Evaldo Cabral de Mello é eleito imortal da ABL

Em eleição onde era o único candidato, o historiador e diplomata pernambucano Evaldo Cabral de Mello, 78, foi escolhido na tarde desta quinta (23) para ser o novo titular da cadeira 34 da ABL, que antes pertencia ao escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, morto no dia 18 de julho.

Evaldo recebeu 36 dos 37 votos. Houve uma abstenção. 20 acadêmicos estavam presentes e 16 votaram por carta.

A votação e a falta de oponentes indicam o presítigo do qual Evaldo Cabral de Mello goza entre os acadêmicos.

Tomás Rangel/Folhapress
O escritor Evaldo Cabral de Mello, novo imortal da Academia Brasileira de Letras
O escritor Evaldo Cabral de Mello, novo imortal da Academia Brasileira de Letras

Homem de personalidade discreta, considerado até retraído, Evaldo resistia aos convites para a ABL, até que os amigos Eduardo Portella, Alberto da Costa e Silva e Alberto Venancio o convenceram.

Tido como um dos maiores historiadores do país, Evaldo destoa da historiografia tradicional, que ele considera excessivamente focada no Sudeste. "Evaldo tem visões extremamente originais e próprias. Por exemplo, sobre o processo de independência do Brasil: ele dá grande relevo aos movimentos locais e provinciais pela independência, em contraste com a historiografia tradicional que coloca o centro dos acontecimentos no eixo Rio-São Paulo", diz Alberto da Costa e Silva.

É especialista em história regional e conhecido por estudos do período de domínio holandês em Pernambuco no século 17, para os quais aprendeu o holandês antigo.

É adepto da filosofia da Escola dos Annales, criada no final dos anos 20 por Marc Bloch (1886-1944) e Lucien Febvre (1878-1956), em torno da publicação "Annales D'Histoire Economique et Sociale". Os Annales se interessavam pelas mudanças no imaginário dos povos ao longo da História, em oposição a uma narrativa focada em datas e biografias.

Escreveu livros como "Rubro Veio" (1986), sobre o impacto da restauração contra o domínio holandês no Nordeste em confrontos como a "Guerra dos Mascates" (1710-12) —conflito que ele descreve em "A Fronda dos Mazombos" (1995)— e "O Negócio do Brasil" (1998), que trata dos fatores econômicos e diplomáticos da disputa entre portugueses e holandeses.

Evaldo admira a figura histórica de Maurício de Nassau, e escreveu sobre ele o perfil biográfico "Nassau: Governador do Brasil Holandês" (2006). Também organizou o volume "Essencial Joaquim Nabuco" (2010).
Evaldo se junta ao coro de historiadores da ABL, que tem vozes importantes, como as de José Murilo de Carvalho e Alberto da Costa e Silva.

Irmão do poeta João Cabral de Melo Neto, Evaldo nasceu no Recife em 1936. Cursou filosofia da história em Londres e Madri e entrou para o Instituto Rio Branco em 1960. Foi do corpo diplomático brasileiro em Washington, Madri, Paris, Lima, Nova York, Genebra, Lisboa e Marselha.


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