Folha de S. Paulo


Livro do melhor da arte do século 21 tem 4 brasileiros

Enquanto Ernesto Neto é festejado pelas formas "amorfas e pendulares" de suas esculturas gigantes, Rivane Neuenschwander é lembrada pela "celebração do efêmero" em sua obra plástica.

Junto deles, Marcelo Cidade e Renata Lucas são os outros dois brasileiros que aparecem em "The 21st Century Art Book", pretensioso volume recém-lançado pela editora britânica Phaidon que tenta elencar o melhor das artes visuais deste século.

Um desses livrões que fazem bonito em qualquer mesinha de centro, o lançamento vale mais por seu aspecto decorativo do que por um conteúdo mais substancial a respeito desses artistas.

Mas essa não é mesmo a ideia. "Queríamos coisas com um apelo visual, que ficassem bonitas na página", conta Rebecca Morrill, editora do livro. "No mundo ideal, seríamos mais rigorosos com a seleção, mas acabamos incluindo coisas de todos os tipos."

Nesse sentido, o "21st Century Art Book" não deixa de listar entre os nomes decisivos do século que acaba de começar celebridades como Jeff Koons, Damien Hirst, Takashi Murakami e outros que há muito já extrapolaram o mundo das artes plásticas e viraram cabeças de uma indústria do entretenimento disfarçada de arte erudita.

Mas o livro tem méritos ao selecionar artistas às margens do circuito de festas, leilões e merchandising.

Figuras centrais da arte atual, como o alemão Tino Sehgal, que nem deixa fotografar suas performances, o norte-americano Theaster Gates, que vem redefinindo discursos sobre racismo na arte contemporânea, e a obra multifacetada da francesa Dominique Gonzalez-Foerster estão todos no volume.

"Queríamos equilibrar artistas que atingem grandes valores nos leilões com outros que não têm essa reputação", diz Morrill. "A ironia é que quando incluímos artistas mais marginais num livro como esse, eles também acabam se valorizando."

Na seleção, há quatro brasileiros num total de 85 artistas –Ernesto Neto, maior celebridade das artes do país, é uma escolha que se encaixa no quesito impacto visual.

Já Neuenschwander, Lucas e Cidade, todos operando num registro mais sutil, revelam para o mundo um lado menos espalhafatoso e mais complexo da arte do país.

Nesse ponto, o Brasil do século 21, pelo menos no olhar dos editores da Phaidon, está menos afetado, longe das plumas e paetês, e mais cerebral.

Enquanto Lucas e Cidade questionam a formação das cidades, com obras em madeira e concreto, nada coloridas, Neuenschwander se firma como arquiteta do acaso, juntando tralhas e dejetos esquecidos em busca da beleza possível em lugares improváveis.

"Sei que parece cedo demais para falar do século 21, mas a arte explodiu em termos de mercado e interesse", diz Morrill. "Isso virou um fenômeno global, e a arte passou a ser vista de outra maneira."

THE 21ST CENTURY ART BOOK
AUTOR Jonathan Griffin, Paul Harper, David Trigg e Eliza Williams
EDITORA Phaidon
QUANTO R$ 133,10 (320 págs.)


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