Folha de S. Paulo


Celso Sim lança seu quarto álbum, mistura de rock e tropicalismo

O próprio Celso Sim admite: "Sou muito conhecido por pouquíssima gente". Mesmo trabalhando como ator, fazendo intervenções de arte urbana e compondo músicas há 20 anos para Zé Celso no Teatro Oficina.

Entre esses "pouquíssimos" seguidores do cantor paulistano está Ben Ratliff, repórter de música do jornal "The New York Times", que o colocou, ao lado de três americanos em ascensão no jazz, numa lista de nomes que as pessoas precisam ouvir.

O jornalista se encantou por "Tremor Essencial", seu quarto álbum solo. Sua discografia, incluindo "Para que Chorar", gravado com Arthur Nestrovksi, pode ser ouvida em www.celsosim.com.br

Eduardo Knapp/Folhapress
Celso Sim na sacada de seu apartamento no centro de São Paulo
Celso Sim na sacada de seu apartamento no centro de São Paulo

Além dos trabalhos autorais, a voz de Celso Sim pode ser ouvida em álbuns representativos de uma MPB sofisticada, como "Eslavosamba", de Cacá Carvalho, ou nos shows em que ele e o amigo José Miguel Wisnik acompanham Elza Soares ("Não conheço ninguém mais musical do que ela", diz).

Seu trânsito entre compositores e músicos interessantes fica evidente quando se lê o encarte de "Tremor Essencial", onde aparecem colaboradores como Arnaldo Antunes, Pepê Mata Machado (seu parceiro mais constante), Guilherme Kastrup, Rodrigo Campos, os citados Carvalho e Wisnik, além de Jorge Mautner, este fundamental em sua carreira.

"Tive uma formação diferente. Fui tutorado pela [atriz e diretora] Myriam Muniz por cinco anos e depois pelo Mautner, por dez anos. Quando fui para o Oficina, Zé Celso foi o primeiro para quem eu mostrei minhas músicas. Nem para o Mautner eu mostrava."

Ele crê que, por essa trajetória, demorou a se aproximar do pop. "Eu não tive infância, nasci muito velho", diz Celso à Folha. Ele conhecia Cazuza e Renato Russo, mas não ouvia a música deles. "Só depois da morte de Cazuza eu abri o ouvido para uma cena mais popular, apesar de ter ouvido muito Mutantes. Mas aquilo era uma sinfônica, né?"

PÓS-TROPICALISTA

O cantor se define como filho do tropicalismo, segundo ele o "não movimento" de maior êxito na cultura brasileira. "A indústria cultural do Brasil hoje não existiria sem o tropicalismo, aquela ideia de caldeirão de feijoada, mas isso teve um outro lado. Vindo dos artistas é muito bonito, mas o que a indústria cultural, de entretenimento, fez com isso não é bonito."

Ele começou a atuar no teatro aos 14, mas tinha pavor de ir à televisão. "Não tinha nada para fazer na televisão. Nunca quis, ainda hoje tenho medo de dar entrevista na TV, o que dizer então de fazer novela?"

"Lógico que gostaria de ser popular, mas acho que não faço nenhum esforço", diz. "Um dia, sei lá, um diretor de novela gosta de uma música, põe na TV e estoura. É o imponderável. Mas não fico pensando nisso, não é foco na minha vida."

Celso assume que oferece um biscoito fino e tem cada vez menos espaço para apresentá-lo. Ele cita a excelência do Sesc de SP para levar músicos menos conhecidos às pessoas, mas vê ali shows de Gal Costa, Rita Lee e Gilberto Gil.

"O mainstream da música brasileira toca no Sesc. Mudou completamente, está tudo de pernas pro ar. Eles nunca precisaram. Hoje só o Chico Buarque fica semanas em cartaz, mas só porque ele passa anos sem aparecer."

Celso Sim mostra "Tremor Essencial" nesta sexta, em show no Oficina. É seu disco mais rock and roll, mais "violento". Que será apresentado no local que consumiu boa parte de sua criatividade musical nos últimos 20 anos.

Depois de "Os Sertões", série de longos espetáculos do Oficina -que exigia repertório diferente a cada montagem da peça-, ele se sentia exaurido. "Fiz umas 400 músicas. Chegava em casa às quatro da manhã e o Zé Celso queria três novas para o dia seguinte."

Revigorado, Celso Sim segue seu caminho de fazer cinema, literatura, teatro e "instalação em cemitério" -referindo-se à ocupação Penetrável Genet, que montou em 2013 no ossário geral do cemitério do Araçá com a arquiteta Anna Ferrari e foi depredada na véspera de sua abertura ao público. No local estão 1.046 ossadas de desaparecidos no período da ditadura.

CELSO SIM
QUANDO sexta (24), às 22h30
ONDE Teatro Oficina, r. Jaceguai, 520; tel. (11) 3106-2818
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 18 anos


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