Mercenária da CIA! Traidora! Yoani mente! Bloqueio mata! Fora! Viva Cuba e a revolução!
Foi o que a blogueira cubana Yoani Sánchez ouviu ao desembarcar no Brasil no ano passado. Por onde andou, viu manifestações contundentes contra a sua presença no país.
Participou de entrevistas e causou acalorada discussão no Congresso Nacional.
Defendida por parlamentares ultraconservadores como Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Ronaldo Caiado (DEM-GO), foi atacada pela esquerda. Fragmentos desses eventos estão no documentário "A Viagem de Yoani", de Peppe Siffredi e Raphael Bottino.
Os diretores abrem algum espaço para os adversários de Yoani. Na fita constam as acusações de que a blogueira é um "peão dos EUA" e de que recebe dinheiro do exterior para tentar desestabilizar o regime cubano.
A câmera entra no confortável apartamento dela em Havana, mas não é feita a pergunta sobre quem a financia.
Nem se entende muito bem como e por que ela viajou no início dos anos 2000 para a Suíça, onde aprendeu a manejar a internet. De volta a Cuba, iniciou sua ação contra o governo socialista.
Passeando de forma superficial em torno dos fatos, os cineastas perdem a oportunidade de esclarecer a trajetória e as ideias dessa personagem.
Além da defesa da liberdade de expressão, como ela opina, por exemplo, sobre educação e saúde na ilha?
O filme passa ao largo desses tópicos. Tratando de um tema que provoca tantas divisões políticas (basta ver um dos últimos debates presidenciais), o documentário pouco contribui para uma discussão mais profunda.
Parece expor os manifestantes antiblogueira como histéricos e antidemocratas, enquanto mostra uma Yoani perseguida e injustiçada. De forma cândida, ela se autodefine como cética, pós-moderna e sem posição política. Difícil aceitar essa versão.
A VIAGEM DE YOANI
DIREÇÃO Peppe Siffredi e Raphael Bottino
PRODUÇÃO Brasil, 2014
MOSTRA hoje, no CCSP, às 17h; 22/10, no Cine Belas Artes, às 21h50
AVALIAÇÃO ruim