Folha de S. Paulo


'The Green Prince' propõe final feliz a conflito entre Israel e Palestina

O diretor Nadav Schirman arrepiou-se quando ouviu a história que transformaria no documentário "The Green Prince": um espião israelense que recruta o filho de um líder terrorista palestino para colaborar com o país rival.

"Tive essa sensação de que a esperança era um sentimento tangível", diz o israelense Schirman às vésperas da estreia de seu filme na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, nesta sexta (17).

A história havia sido narrada em 2010 na autobiografia "Son of Hamas", a partir da qual o diretor concluiu que, a despeito de todos os indícios contrários, era possível encontrar uma área pacífica entre dois inimigos. Filmar "The Green Prince" lhe pareceu ali um imperativo.

Divulgação
Cena do documentário 'The Green Prince'
Cena do documentário 'The Green Prince'

O documentário tem uma estrutura narrativa eficiente que inclui só dois personagens, definidos por valores opostos: honra e vergonha.

Honra para o espião israelense Gonen Yitzhak, que recrutou o jovem palestino Mosab Youssef. Para Mosab, porém, era a vergonha: filho de Hassan Youssef, um dos líderes da facção militante Hamas, traiu a própria família ao colaborar com Israel.

O documentário narra a história de ambos, desde seu primeiro encontro, durante os dez anos em que Mosab espionou a facção militante palestina Hamas e entregou informações estratégicas a Israel, sabotando os esforços do próprio pai.

Mas a própria natureza dos entrevistados, espiões calejados, exigiu do diretor algum molejo para extrair deles informações e reações necessárias para o seu filme.

Schirman usou o aparelho Interrotron em suas gravações. "Os entrevistados olham para uma tela com o meu rosto, atrás da qual está a lente da câmera", explica. Fica a impressão de que Mosab e Gonen falam com o espectador.

"Fizemos um acordo para eles me deixarem ir a fundo na história. Mais do que nos eventos, eu estava interessado no envolvimento deles."

Afinal, de histórias de espionagem o cinema está repleto. Em 2013, fizeram sucesso o israelense "Belém: Zona de Conflito" e o palestino "Omar", ambos sobre a colaboração entre palestinos e o serviço secreto israelense.

O trunfo de "The Green Prince" é, no entanto, destoar do gênero ao propôr um final feliz para a história.

"As pessoas precisam de alguma coisa que lhes dê otimismo", diz o diretor. "Gonen e Mosab eram inimigos e se tornaram amigos porque assumiram o risco de confiar um no outro. Os líderes políticos, porém, não arriscam nas negociações de paz."

O risco da dupla, ademais, era tangível. Ambos poderiam ter sido mortos, se lhes caísse a máscara. O clímax do filme está por aí, afinal.

THE GREEN PRINCE
DIREÇÃO Nadav Schirman
PRODUÇÃO Alemanha, EUA, Reino Unido e Israel, 2014
MOSTRA hoje, no Matilha Cultural, às 16h; amanhã, no Espaço Itaú Frei Caneca, às 16h45; dom. (19), no Espaço Itaú Augusta, às 21h45; 26/10, no Cine Livraria Cultura, às 19h45


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