Folha de S. Paulo


'Gerador de poesia' vira atração na Feira de Frankfurt

A arte vem da inspiração ou da transpiração? Com o gerador cerebral de poesias, nem uma coisa nem de outra, só de algoritmos.

Basta você colocar sobre a cabeça um aparelho que mede suas ondas cerebrais e, em poucos segundos, ver na tela o poema original gerado por seu cérebro sem qualquer esforço - e pode ser em inglês ou em alemão. Depois é só imprimir e guardar a prova do seu talento lírico.

Não é nenhuma invenção num livro de ficção científico, e sim uma das atrações mais divertidas da Feira do Livro de Frankfurt deste ano, que começa hoje e vai até domingo na cidade alemã.

Desenvolvido pelo coletivo de arte e ciência "Brains on art", da Finlândia, o país homenageado nesta edição da feira editorial, a invenção chamada de "Brain poetry" (poesia cerebral) quer mostrar que homem e máquina podem interagir nos processos criativos.

Jukka Toivanen, doutor em inteligência artificial e um dos cinco membros do coletivo, explica que o padrão das ondas cerebrais de cada pessoa define o algoritmo do poema, que é determinado por um estilo e uma métrica. A partir daí, palavras e frases são combinadas de forma a ter algum sentido.

"Ainda não é perfeito, mas os métodos para criar poesia e música automaticamente estão ficando cada vez melhores", afirma Toivanen, que cita o exemplo do Songsmith, um aplicativo da Microsoft que gera letras de música a partir da voz do usuário.

Muita gente não leva o gerador de poesias a sério. "Foi engraçado, mas estranho, não tive que fazer nada!", conta Maarit Lukkarinen, intérprete finlandesa que fez a experiência hoje de manhã. "Acho que é só uma brincadeira", diz.

Já a agente literária alemã Alexandra Legath ficou pensativa depois de "gerar" um poema. "O texto é muito masculino, fala 'Eu sou o filho de Marte', mas eu sou uma filha de Vênus", analisa. "Achei que ia sair um poema mais do coração, mas o meu é literalmente muito cerebral."

Gerar poesia, e não prosa, é um dos truques que tornam o "Brain poetry" mais interessante. "Gerar prosa com sentido seria bem mais difícil", diz o pesquisador. "Já um poema permite uma interpretação mais livre, então, mesmo que o texto não tenha um sentido muito claro, as pessoas sempre conseguem encontrar algum significado nele."

Será mesmo? Leia o poema que eu "fiz" e julgue por si mesmo:

"Você sossegando e tentando escalar / Uma vez virei-me debaixo das copas do cedro / Você quer/ Você, nunca um amigo / Eu sorri discretamente por toda resposta / Eu evoco a idade / Pobre e decrépita alma"


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