Folha de S. Paulo


Documentários sobre músicos no Festival do Rio têm recorte diferente

"Estou apaixonada por mim mesma. Se soubesse que era tão gostosa, não tinha levado pé na bunda de ninguém", diz Elza Soares, 77, aplaudida de pé na tarde do último sábado (27), antes da exibição do documentário sobre a cantora, que está na mostra competitiva do Festival do Rio.

"My Name is Now, Elza Soares", da mineira Elizabete Martins Campos, estreante em longas, tem formato pouco usual ao gênero dos documentários musicais brasileiros: ignora depoimentos de outros e concentra-se na personagem, com direito a longas sequências de divagações, entremeadas pelas proezas vocais da carioca.

"Filmei com muita gente, com Chico Buarque, por exemplo. Mas não cabia colocar outra pessoa, porque a Elza é o filme, a voz dela preenche tudo", diz a diretora, que descreve o filme como uma "viagem de imersão experimental" no universo da carioca.

À Folha, a cantora diz que pediu que o filme fosse "adocicado". "Não queria um filme que falasse das dores, das porradas que levei da vida. Num próximo vai ter."

Elza diz só ter chorado numa cena que revira suas fotos com o ex-marido Garrincha (1933-1983) e o filho que tiveram, morto aos oito. "Foi forte ver o Garrinchão e o Garrinchinha juntos."

SEM PASSISTA PELADA

É o recorte original que também distingue o documentário "O Samba", do francês Georges Gachot, que se propõe a esmiuçar o cotidiano dos envolvidos no Carnaval, sem resvalar nos clichês do "desfile da escola na avenida ou da passista dançando pelada", como descreve Martinho da Vila à reportagem.

O sambista aparece no filme como uma espécie de mestre de cerimônias, introduzindo a equipe de filmagem ao coração da escola carioca Unidos de Vila Isabel, e que canta alguns de seus sucessos.

"Ele é quase um Schubert da música brasileira, um sambista clássico", afirma Gachot. "Fora do Brasil, a ideia que se tem do samba é de mulher pelada e música sem poesia."

Martinho completa: "O samba sempre foi muito engajado, tem muita crítica social, mas nunca foi vendido assim lá fora." Sua cena favorita no filme, conta, é uma das últimas: uma mulher de idade dançando sozinha nas proximidades da Sapucaí. O diretor explica a ideia: "O samba começa dentro de cada um, depois é que vai para o grupo".

O filme tem duas sessões no sábado (4), no Estação Ipanema (r. Visconde de Pirajá, 605, tel. 21-2279-4603).

O universo musical também está presente em outros filmes da mostra (veja destaques no quadro ao lado).

O jornalista Guilherme Genestreti se hospedou a convite da organização do Festival do Rio

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OUTROS FILMES SOBRE MÚSICA

"James Brown"
O filme de Tate Taylor é produzido por Mick Jagger e tem Chadwick Boseman no papel do pai do soul americano, despontando no estrelado.
ONDE: Cine Roxy (av. N. Sra. de Copacabana, 945; tel. 21-21-2236-6245)
QUANDO: Quarta (1º), às 14h e 19h

"Guardiões do Samba"
Os diretores Eric e Marc Belhassen deixam que os próprios sambistas revirem a história desse gênero musical, em rodas de samba e depoimentos.
ONDE: Ponto Cine (Est. do Camboatá, 2.230; tel. 21-3106-9995)
QUANDO: Quinta (2), às 18h

"Trinta"
Matheus Nachtergaele interpreta o carnavalesco Joãosinho Trinta (1933-2011) nessa cinebiografia dirigida por Paulo Machline.
ONDE: Theatro Municipal (pça. Marechal Floriano, s/n, tel. 21-2332-9191)
QUANDO: Quarta (1º), às 20h30

"Cássia"
Documentário sobre a cantora Cássia Eller (1962-2011) é dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, o mesmo que dirigiu "Lóki", sobre Arnaldo Baptista.
ONDE: Cinépolis Lagoon (av. Borges de Medeiros, 1.424; tel. 21-2512-3002)
QUANDO: Segunda (6), às 21h45 e 23h


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