Folha de S. Paulo


Dança da Cia. Antonio Gades revela a Espanha profunda

"Fuego" é uma dança ritual: conjura os espírito da Espanha profunda e do bailarino lenda do flamenco, Antonio Gades (1936-2004), enquanto representa o rito que liberta a cigana Candela do fantasma de seu ex-amante.

Foi a coreografia escolhida pela Companhia Antonio Gades para celebrar os dez anos da morte de seu fundador. A remontagem, que só tinha sido apresentada na Espanha, chega ao Brasil.

Nesta quarta (1º), o espetáculo estará no palco do Teatro Alfa, em São Paulo, depois de passar por Porto Alegre e Rio. Na sexta (3), vai para Salvador, encerrando a temporada brasileira.

Javier del Real/Divulgação
Cena do espetáculo 'Fuego', da Companhia Antonio Gades
Cena do espetáculo 'Fuego', da Companhia Antonio Gades

A obra sintetiza o que Gades queria com sua dança: representar a essência da cultura de seu povo com uma abordagem contemporânea, em contraposição ao que considerava o "flamenco prostituído" para turistas.

O bailarino e coreógrafo é considerado o Che Guevara do flamenco. O apelido faz referência à sua atuação revolucionária não só na dança, mas também na política.

Comunista convicto, mantinha estreitas relações com Fidel e Raúl Castro. Suas cinzas foram depositadas em um mausoléu dedicado aos heróis da revolução, em Cuba.

"Fuego" é a versão para palco da coreografia criada por Gades e o diretor espanhol Carlos Saura para o filme "El Amor Brujo", de 1986, que encerra a chamada trilogia flamenca do cineasta e é, também, o último trabalho que fizeram juntos.

"É um momento de Gades mais livre, não tão preso às linhas clássicas do flamenco. Consegue mostrar em profundidade a alma da dança, do povo", diz à Folha Stella Arauzo, atual diretora da companhia e protagonista da montagem original da obra.

A coreografia é baseada na música para balé criada pelo compositor espanhol Manuel de Falla. Conta a história da cigana Candela, que vive atormentada pelo fantasma de seu ex (e infiel) companheiro, morto em uma briga.

Spoiller do bem: o ritual do fogo é a forma de a moça conseguir se livrar da maldição do ex e se unir ao atual amado, Carmelo. "É a Andaluzia profunda, com seus dramas, mas também com sua alegria. Tem muitas tonalidades", afirma Arauzo.

A luz, tão marcante nesta região do sul da Espanha, é muito importante no espetáculo, segundo a diretora da companhia. "É como uma pintura. Nas partes escuras, é muito [o pintor espanhol] Goya", diz ela.

FUEGO
QUANDO quarta (1º), às 21h
ONDE Teatro Alfa, r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. (11) 5693-4000
QUANTO esgotado
CLASSIFICAÇÃO livre


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