Folha de S. Paulo


Hollywood descobre a força do público feminino

Não é de hoje que Hollywood sabe que as mulheres são freguesas melhores que os homens. Então por que só agora os estúdios produzem o megafilmes focados em mulheres?

Nos últimos 12 meses, "Gravidade", "Jogos Vorazes - em Chamas", "Frozen - Uma Aventura Congelante" e "Malévola" arrecadaram US$ 3,6 bilhões (R$ 8,64 bilhões) no mundo, segundo o banco de dados Box Office Mojo.

A Warner Bros decidiu finalmente arriscar-se com "Mulher Maravilha", e a Columbia Pictures aposta num remake de "Os Caça-Fantasmas" protagonizado por mulheres. A Disney tem esperanças enormes em relação a seu "Cinderela" ao vivo, que chegará aos cinemas no início de 2015.

Enquanto isso, a Lionsgate decidiu transformar sua série "Divergente", estrelada por Shailene Woodley, em quatro filmes.

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Cena do filme 'Divergente', com Shailene Woodley e Theo James
Cena do filme 'Divergente', com Shailene Woodley e Theo James

A razão pela qual os estúdios gastam centenas de milhões de dólares para fazer filmes com protagonistas mulheres não é que os protestos pelo pouco-caso com as mulheres tivessem sido ouvidos.

"Quisera eu que fosse assim", disse Catherine Paura, pesquisadora do mercado de cinema. "Desde os anos 1980 eu venho chamando a atenção para a força do público feminino."

Produtores dizem que a mudança de foco acontece porque o público feminino mostrou aos estúdios que pode valer muito dinheiro. As mulheres finalmente provaram que são capazes de dinamizar não um só filme, mas uma série inteira que pode fazer sucesso global.

Os cinco romances de ação "A Saga Crepúsculo" renderam US$ 3,6 bilhões (R$ 8,57 bilhões), valor ajustado pela inflação.

Os dois primeiros filmes "Jogos Vorazes", estrelados por Jennifer Lawrence, arrecadaram US$ 1,6 bilhão (R$ 3,81 bilhões) —há mais dois pela frente, começando com "Mockingjay - Part 1", que chega aos cinemas em novembro.

Hollywood preza esse tipo de franquia acima de tudo, observou Lynda Obst, produtora que tem o inédito "Interstellar", de Christopher Nolan, em seu currículo.

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Cena do filme 'Jogos Vorazes: Em Chamas'
Cena do filme 'Jogos Vorazes: Em Chamas'

Não apenas os filmes de franquia são mais fáceis de promover e, portanto, encerram menos riscos, ela disse, como tendem a render lucros da propaganda e outros produtos relacionados.

"Todo mundo procura uma fórmula que dê certo. Neste momento, 'Jogos Vorazes' parece uma altamente convincente", disse Obst.

"Frozen" talvez não ganhe uma sequência —ou, pelo menos, não no futuro próximo, em vista do tempo longo de gestação das animações—, mas o musical sobre está rendendo muito dinheiro de franquia à Disney.

Um show itinerante no gelo acaba de ser lançado, está previsto uma campanha publicitária enorme para o Natal, e uma versão na Broadway está em processo de preparo acelerado.

Algumas vezes o público feminino transformou um filme num sucesso imprevisto: foi o caso de "Mamma Mia!", "Titanic" e "As Patricinhas de Beverly Hills."

Em 2001 a Disney lançou "O Diário da Princesa", que rendeu US$ 222,4 milhões (R$ 529,3 milhões) em todo o mundo e levou a "O Diário da Princesa 2", em 2004.

Total dos dois filmes: US$392,3 milhões (R$ 933,7 milhões). Nada mau para filmes que atraíram um número ínfimo de homens.

Mas também em 2001, a título de comparação, a Universal lançou um filme movido a testosterona intitulado "Velozes e Furiosos".

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A atriz Angelina Jolie em cena do filme 'Malévola'
A atriz Angelina Jolie em cena do filme 'Malévola'

Cinco sequências e US$ 3 bilhões (R$ 7,1 bilhões) de bilheteria mais tarde —e com um público dividido quase igualmente entre homens e mulheres—, a franquia continua firme e forte.

Assim, melhor concentrar-se na testosterona. Uma mudança começou a se manifestar em 2008, com o primeiro "Crepúsculo".

"Sex and the City" também saiu naquele ano, gerando US$ 460 milhões (R$ 1,09 bilhão). Mas muitos executivos consideraram os filmes uma exceção à regra.

No entanto, o público do segundo filme "Crepúsculo" foi equilibrado, e a arrecadação foi crescendo de acordo. "Lua Nova", o segundo filme da série, rendeu US$ 788,3 milhões (R$ 1,88 bilhão), 81% mais que o primeiro.

Talvez aquela teoria de que os homens evitam filmes "de menina" precisasse ser revista? Quem sabe os hábitos dos espectadores tivessem começado a refletir uma definição nova de masculinidade?

Quando "Malévola", com Angelina Jolie, chegou aos cinemas, vendendo US$ 748,7 milhões (R$ 1,78 bilhão) e virando o filme número um a não fazer parte de uma franquia da temporada, o boom já era inegável. E uma notícia que não é surpresa: a Disney já se prepara para "Malévola 2".


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