Folha de S. Paulo


Foo Fighters atravessa crise e recorre a viagem pelos EUA para gravar disco

Duas décadas depois de deixar de lado a bateria que o consagrou no Nirvana e de assumir a liderança de uma banda na qual ele é a força criativa —compõe, toca guitarra, canta e ainda ajuda a produzir—, Dave Grohl parece viver uma crise existencial com o Foo Fighters.

"Após 20 anos é preciso mudar, criar novos desafios", ele diz na abertura de "Sonic Highways", série de documentários gravada simultaneamente ao oitavo disco da banda, de mesmo nome.

Para mudar e fugir da rotina de entrar no estúdio, compor e gravar um novo álbum, a banda fez uma turnê criativa, viajando por oito cidades dos Estados Unidos em busca das raízes musicais do país —e da própria identidade.

"Ficamos uma semana em cada lugar, fomos recebidos por pessoas locais, passamos a conhecer as cidades de forma como nunca tínhamos visto", explica à Folha Nate Mendel, baixista do Foo Fighters, em entrevista em um hotel de luxo em Londres.

Andrew Stuart
Dave Grohl (à esq.) com músicos de Nova Orleans em cena do documentário 'Sonic Highways
Dave Grohl (à esq.) com músicos de Nova Orleans em cena do documentário 'Sonic Highways'

No processo, foram feitas entrevistas com músicos locais, produtores, donos de estúdios e gravadoras que fizeram a história da música nos EUA. No fim de cada semana, a banda de Grohl entrava no estúdio e gravava uma música inspirada pela experiência.

"O Foo Fighters não é a estrela dessa série. Ela é sobre as cidades e suas músicas, e no fim a gente aparece e pode-se ver tudo isso pelos olhos da banda", diz Mendel.

GOSTO LOCAL

Das conversas com os músicos Buddy Guy, Jimmie Vaughan, Cheap Trick e o produtor Steve Albini, a banda cria "Something From Nothing", música inspirada pelo blues e pelo punk de Chicago.

Do contato com as bandas e músicos Trouble Funk, Fugazi, Chuck Brown, Bad Brains e até Pharrell Williams surge "The Feast and the Famine", que representa a passagem do grupo por Washington, DC. E o processo se repete nas cidades de Austin, Los Angeles, Nashville, Nova Orleans, Nova York e Seattle.

"Convidamos músicos locais para tocar conosco, e isso dá um pouco do gosto local. Quando se tem um bluesman como Gary Clark Jr. tocando com você em Austin, a música vai soar um pouco mais Austin", diz Mendel.

Apesar disso, as músicas gravadas no processo têm claramente o som tradicional do rock que consagrou o Foo Fighters. Além de "Something..." e "The Feast...", que abrem o disco, outras três das oito músicas de "Sonic Highways" foram apresentadas à imprensa em Londres na última semana: "I Am a River", "Outside" e "Congregation".

Em todas elas, os arranjos de três guitarras se destacam pelos riffs distorcidos, que dominam a melodia. "I Am a River" tem um dos refrões mais marcantes delas.

A minissérie vai ao ar na HBO a partir de 17/10. O álbum, com nove capas diferentes —cada uma retratando uma cidade em que o disco foi gravado, além de uma versão com o logotipo do disco—, começa a ser vendido em 10/11.

Divulgação
Uma das nove capas do novo disco do Foo Fighters, batizado de '“Sonic Highways
Uma das nove capas do novo disco do Foo Fighters, batizado de '“Sonic Highways'

LIDERANÇA

O momento de "crise existencial" se encaixa na teoria que o baixista do Foo Fighters costuma repetir, de que bandas têm seu ponto mais criativo no começo da carreira.

"Em muitos momentos cheguei à conclusão de que o segundo álbum ["The Colour and the Shape"] é a verdadeira declaração da banda. Tudo depois foi um trabalho nosso de refinar a história e tentar capturar o máximo que pudermos daquele fogo", diz.

Mas, para Mendel, a banda ainda evolui. "A força criativa da nossa banda [Grohl] se tornou alguém completamente diferente do que era, e agora é capaz de composições que ele nem imaginava."

Mendel não nega que Grohl tenha sempre o poder de tomar as decisões finais. Em um vídeo disponível no YouTube, o baixista comparou a banda ao livro "A Revolução dos Bichos", em que "uns são mais iguais que os outros".

"Lidamos bem com isso. É como a banda funciona. Todo o mundo tem voz e é respeitado. Grohl é a pessoa mais criativa, então quem vai querer questionar suas decisões?", afirma Mendel.

"Claro que podemos questionar, mas acabamos descobrindo que a melhor forma de lidar com isso é partir em projetos paralelos em que possamos agir de forma diferente."

Por esse motivo, Mendel deve lançar no próximo ano seu primeiro trabalho solo, ainda sem nome, em que diz pretender buscar sua "própria voz".


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