Folha de S. Paulo


Crítica: Leonard Cohen leva clima de cabaré a novo CD

Domingo, dia 21, Leonard Cohen completa 80 anos em meio a uma das fases mais produtivas da carreira. O cantor, compositor, poeta e autor canadense havia praticamente se aposentado da música em 2004 para viver num monastério budista, mas foi obrigado a voltar em 2008, depois de ter suas economias surrupiadas pela empresária.

Hoje, Cohen está prestes a lançar seu segundo disco em dois anos: "Popular Problems". O álbum sai em 23 de setembro, mas pode ser ouvido no site da National Public Radio (www.npr.org), o sistema de rádios públicas norte-americanas.

Para um perfeccionista, conhecido por se debruçar por meses sobre minúsculos detalhes de cada letra, o ritmo de lançamentos de Cohen nos últimos anos é assombroso. Especialmente porque, desde 2008, ele não parou de excursionar, tocando para os maiores públicos de sua vida.

Augusto Bartolomei/Estudio Bê
O músico Leonard Cohen, que lança o disco 'Popular Problems'
O músico Leonard Cohen, que lança o disco 'Popular Problems'

O novo disco, produzido por Patrick Leonard (Madonna, Jewel), é puro Cohen: baladas lentas com clima de cabaré enfumaçado, uma atmosfera lúgubre com toques de humor negro (só ele pode escrever um verso tão lindamente perverso como "Há tortura, há morte... e também minhas críticas ruins", de "Almost Like the Blues").

E tudo vem embalado por aquela voz cavernosa e sussurrada, de quem já viveu mais e mais intensamente que todos nós.

A sonoridade do disco é espartana: quase só pianos e teclados, ajudados de vez em quando por um naipe de metais, uma guitarrinha de blues ou um violino.

Os temas são os que sempre fascinaram Cohen: morte, sexo e amor. Nos últimos discos, ele tem cantado do ponto de vista de quem sabe ter pouco tempo. O resultado são divagações engraçadas sobre a finitude e a vontade de amar até o fim.

Em "Slow", faixa que abre o disco, ele contrapõe o seu próprio ritmo —"Gosto de tudo devagar"— ao de uma amante, de "movimentos rápidos": "Deixe-me recuperar o fôlego/ Achei que tínhamos a noite toda".

Há letras que citam atrocidades e guerras ("Almost Like the Blues"), desastres naturais ("Samson in New Orleans" é sobre o furacão Katrina), e uma cita até o Egito antigo ("Born in Chains").

Mas são alguns versos soltos, que parecem ter sido colocados apenas para embelezar a narrativa, que realmente chocam pela genialidade.

Em "A Street", Cohen diz para uma amante: "Você botou um uniforme/ Para lutar a guerra civil/ E você estava tão linda/ Que eu nem quis saber de que lado estava". Que raridade: em 2014, alguém que ainda lembra ao ouvinte que palavras importam.

POPULAR PROBLEMS
ARTISTA Leonard Cohen
GRAVADORA Columbia/Sony Music
QUANTO R$ 79,90 (importado)
AVALIAÇÃO ótimo


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