Folha de S. Paulo


Globo procura estética visual de TV fechada em 'Dupla Identidade'

Em meio à mata, o amarelo berrante da fita de isolamento chama a atenção. Ao centro, o corpo de uma moça com roupa de festa e olhos vidrados. Curiosos, ao longe, tentam acompanhar o movimento de policiais e peritos, que estudam o terreno para tentar achar pistas sobre o que ocorrera ali –até se depararem com um cartão.

A cena, cuja gravação a Folha acompanhou, é a primeira com uma pista deixada para trás pelo psicopata Edu, vivido por Bruno Gagliasso na série "Dupla Identidade", que a Globo estreia no próximo dia 19. Na trama, ele tem uma vida aparentemente normal, mas ataca mocinhas quando ninguém está olhando.

"Ele poderia estar do nosso lado agora", explica o intérprete. "Não é que ele tenha dupla personalidade. Ele é aquilo, só que quer se enquadrar nos padrões ditos normais da sociedade por estratégia. Precisa agradar porque sabe que assim será mais fácil se aproximar das vítimas."

Ele diz que estudou "a realidade" para compor o personagem, que não é inspirado em nenhum psicopata que de fato existiu. "Vi coisas tenebrosas e fortes durante o processo, mas conforme a gente vai conhecendo, vai se chocando menos", disse. "Comentei alguns casos com amigos e eles ficaram muito mais impressionados do que eu."

INSPIRAÇÃO

A produção é uma tentativa da Globo de se aproximar do público de séries estrangeiras, mais exigente em termos de roteiro e estética. As principais referências foram tramas como "The Following", "Dexter" e "The Fall".

A autora, Gloria Perez, diz que a psicopatia sempre a atraiu como tema e que que queria abordar o assunto na TV aberta. "Estamos trazendo um gênero que faz muito sucesso e até então as pessoas só tinham acesso na TV fechada", diz.

Ela nega que a temática seja muito americana. "Assassinos em série têm inspirado séries de muitas nacionalidades, até porque são tipos universais, que podem ser encontrados em todas as culturas, em todas as épocas, em ambos os sexos", afirma.

Para a gravação, o diretor Mauro Mendonça Filho montou com uma equipe híbrida de TV e cinema, na tentativa de imprimir uma estética mais próxima de séries como "Breaking Bad" e "Mad Men".

"A gente queria que o sol, que é o clichê do Rio de Janeiro, estivesse gerando sombras e não claridade", disse sobre a fotografia, inspirada na primeira. Já a segunda foi referência para cenários.

Pela primeira vez, a emissora gravou um produto inteiro com tecnologia 4K (que dá à imagem qualidade quatro vezes superior à do Full HD). A resolução, que só pode ser percebida por quem tem aparelho compatível, não é o único ganho. Há mais amplitude e profundidade nos quadros e toda a caracterização ficou mais realista.

"O glamour espalhafatoso da novela não é necessário, os cenários e as pessoas têm que parecer de verdade. É tudo menor, o tom é mais baixo", comparou o diretor.

"Antes, a tecnologia afastava muito o que era rodado em câmera de cinema do produto de TV", analisa o cineasta Renê Sampaio ("Faroeste Caboclo"), que também dirige alguns episódios. "A evolução tecnológica faz com que a televisão viva um outro momento. Não é mais questão de ser TV ou cinema, mas de a história ter energia."

Diretores e autora garantem que a história tem um arco que se fecha ao final dos 13 episódios do primeiro ano. Com isso, caso venha a ter uma nova temporada, a série deve explorar outras formas de psicopatia.

NA TV
Dupla Identidade
Estreia da série
QUANDO a partir do dia 19, às 23h30, na Globo
CLASSIFICAÇÃO não informada


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