Folha de S. Paulo


Crítico da Folha faz concerto e maestros escrevem crítica

Crítico de música clássica da Folha, Sidney Molina sentiu na pele, na manhã de domingo (24), o que é ser avaliado enquanto está no palco.

A convite da Folha, os maestros Abel Rocha, titular da Orquestra Sinfônica de Santo André, e Edilson Ventureli, regente-assistente da Sinfônica Heliópolis, acompanharam cada movimento de Molina no quarteto de violões Quaternaglia.

O grupo foi solista no "Concerto Andaluz", de Joaquín Rodrigo (1901-1999), ao lado da Orquestra Experimental de Repertório regida por Carlos Moreno.

Apu Gomes/Folhapress
Chrystian Dozza, Fábio Ramazzina, Thiago Abdalla e Sidney Molina tocam com a Orquestra Experimental de Repertório
Chrystian Dozza, Fábio Ramazzina, Thiago Abdalla e Sidney Molina tocam com a Orquestra Experimental de Repertório

Ventureli assistiu ao Quaternaglia compenetrado, ora com braços cruzados, ora com a mão segurando o queixo, calado. Rocha por vezes sacudiu suavemente corpo, acompanhando a música.

Se a essa altura ainda era impossível saber a opinião dos "críticos", assim que acabou a música, o público, que tomava mais da metade da casa, deu seu veredicto, aplaudindo os músicos de pé e soltando gritos calorosos.

O Quartenaglia saiu do palco e ainda sob aplausos voltou para um bis. E surpreendeu o público fazendo percussão ao violão na execução de "Frevo e Fuga", de Paulo Bellinati. De novo, os quatro foram aplaudidos de pé.

Editoria de arte/Folhapress

A orquestra ainda tocou, sem o quarteto, o "Capricho Espanhol", de Rimsky-Korsakov (1844-1908), que teve direito até a harpa e castanholas, e a "Sinfonia nº 2", de Beethoven" (1770-1827).

O analista de sistemas Angelo Martins, 33, ficou surpreso ao saber que Molina era o crítico e, desafiado pela Folha, também se arriscou no papel: "Achei que os violões estavam com som diferente, um mais baixo que o outro".

"Ele é o crítico?", perguntou a arquiteta Maria Cristina Schicchi. "Adorei. Sem o violão, a música andaluz não seria nada", palpitou.

Molina gostou do desafio e ao final do concerto se encontrou com os "críticos". Mas o que eles acharam mesmo, Molina só saberá hoje, ao ler o jornal, como acontece com seus criticados na Folha.

*

CRÍTICA ABEL ROCHA:

Desentendimento entre os solistas e a orquestra ficou explícito

Convidado pela Folha a participar desta "inversão de papéis", tive o prazer de escutar mais uma vez o Quaternaglia Guitar Quartet (QGQ).

Há uma grande diferença entre um só instrumentista e um grupo apresentar-se com orquestra. O grupo deve possuir uma marcante unidade, e o Quaternaglia tem um cuidadoso trabalho de conjunto.

As diversas e sutis nuances de sonoridades, timbres, dinâmicas, articulações e efeitos sonoros estavam claramente presentes, nas variações temáticas, nas modulações e notadamente na sensível cadência do segundo movimento.

Pequenos "desentendimentos" entre solistas e OER ficaram explícitos em algumas mudanças súbitas de andamento, compreensíveis por ser uma orquestra jovem, o que não comprometeu o concerto.

AVALIAÇÃO ótimo

CRÍTICA VENTURELI:

Em algumas transições, senti uma pequena instabilidade

De crítico a criticado e de criticado a crítico, esse foi o "desafio". Confesso que a inversão de papéis se mostrava desafiadora, refleti e resolvi aceitar -afinal, ser maestro é um constante exercício de escuta crítica. E criticar é "falar sobre" e não necessariamente "falar mal", o que me tranquilizou.

O Quaternaglia goza de um ensemble invejável, qualidade que demonstrou neste concerto de ritmos esfuziantes, que encantou a plateia e a mim.

Em algumas transições, dos temas melódicos para os rítmicos, senti uma pequena instabilidade, mas que em nada prejudicou o desempenho.

Através do olhar, os músicos conversavam em cena e quando se fez necessário ajustar a proposta de andamento destes com a da OER, foram generosos ao ceder a serviço da música. Bravi Tutti!

AVALIAÇÃO bom


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