Folha de S. Paulo


Crítica: Mostra no Tomie Ohtake foge do olhar simplista sobre a mestiçagem

A sobreposição de 38 aquarelas do século 18 sobre o conflito entre bandeirantes e índios kaingang, no Paraná, da série "Marcados", de Cláudia Andujar, com fotos dos ianomâmis identificados para cuidados médicos por conta do contato com os brancos, no século 20, e dos desenhos de Taniki Manippi-Theri, um ianomâmi se autorretratando, funcionam como uma síntese de "Histórias Mestiças".

Em vez de celebrar a mestiçagem, a exposição, no Instituto Tomie Ohtake, apresenta uma abordagem que problematiza os mitos fundadores do Brasil ao sobrepor distintas visões, como as aquarelas, fotos e desenhos ianomâmi na sala Encontros e Desencontros, um dos seis núcleos da mostra.

RESUMO

Com curadoria de Lilia Moritz Schwarcz e Adriano Pedrosa, "Histórias Mestiças" é uma espécie de resumo da Mostra do Redescobrimento, a exposição que, em 2000, celebrou de forma ufanista e exagerada, com 15 mil obras, a história dos 500 anos do Brasil.

Denise Andrade/Divulgação
Artista plástico Ernesto Neto em abertura para convidados da exposição Histórias Mestiças
Artista plástico Ernesto Neto em abertura para convidados da exposição Histórias Mestiças

Enquanto no Redescobrimento 13 módulos segmentavam a cultura brasileira por temas e movimentos, como arte moderna, indígena ou negra, "Histórias Mestiças", ao não compartimentar, evita procedimentos rígidos. E, melhor, apresenta uma história colonial que evita hierarquias simplistas e polarizadas.

Um exemplo é o núcleo Máscaras e Retratos, em que se observa tanto uma pintura de uma negra tão adornada que nem parece escrava, como a série de retratos de amas de leite, que servem mais como moldura para mostrar as crianças.

Outro mérito da mostra é o seu caráter político e reflexivo, tão distante da prática dos museus paulistas -com exceção do Museu Afro Brasil, que em dez anos de funcionamento tem revisto a história da cultura brasileira de forma original.

Com várias obras encomendadas para a mostra, a instalação de Ernesto Neto "Em Busca do Sagrado Jiboia" torna-se um destaque, pois deixa de ser ilustração para se tornar uma prática real de mestiçagem.

HISTÓRIAS MESTIÇAS
QUANDO de ter. a dom., das 11h às 20h; até 5/10
ONDE Instituto Tomie Ohtake, r. Coropés, 88, tel; (11) 2245-1900
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo


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