O grupo Unlocking the Truth, um trio de músicos negros adolescentes de Brooklyn, vem recebendo forte cobertura na mídia depois de assinar um contrato de gravação, e poderia ser chamado de boy band —mas apenas no sentido mais literal.
Talvez seja mais preciso definir o grupo como antiboy band. Eles não são produto de uma fábrica de astros como a Disney. Em lugar de confeitos pop, eles criam um rock forte, que lembra os primeiros anos do Metallica, inspirado pelos sons que eles descobriram assistindo animês japonesas e vídeos da World Wrestling Entertainment.
"Nós tocamos heavy metal", disse Malcolm Brickhouse, 13, o guitarrista da banda, em um banco do pátio de sua escola uma tarde recente, acompanhado pelos amigos —o baterista Jarad Dawkins, 12, e o baixista Alec Atkins, 14. "Nossas audiências não são crianças".
Eles já abriram para grupos de rock como o Queens of the Stone Age e o Scar the Martyr. E os agentes de seus shows são os mesmos que cuidam das agendas de bandas como Guns n' Roses e o Motörhead, para quem eles abriram em abril.
De acordo com reportagens, o contrato de gravação da banda inclui um adiantamento de US$ 60 mil (R$ 136,2 mil) pelo seu primeiro álbum, com os valores subindo para cada produção subsequente, totalizando US$ 1,78 milhão (R$ 4,04 mi) por até seis discos. Os meninos têm contrato com a editora Penguin para um livro, e existem planos para filmar um documento ao estilo de "One Direction: This is Us".
Brickhouse e Dawkins, que se conheceram na igreja quando meninos, tocam juntos no porão da casa de Brickhouse desde o primário, e aprenderam sozinhos os seus instrumentos. Atkins entrou para o grupo dois anos atrás.
Duas das mães dos meninos, que os estavam acompanhando na entrevista, disseram que o interesse inicial deles pelo heavy metal foi causa de preocupação. "Quando ouvi o som deles, pensei 'meu Deus, vou precisar levar esse menino de volta para a igreja'", diz Tabatha Dawkins, que trabalha com finanças.
Imitando o rugido de um cantor de heavy metal, Annette Jackson, a mãe de Brickhouse e uma das empresárias da banda, acrescenta que "minha reação foi: 'Ei, nada de tocar essa música de matar mãe'".
A energia dos meninos —eles não paravam de se cutucar, como gatos, durante a entrevista- era perfeita para o ambiente animado de um pátio de escola. Mas quando eles tocam, parecem concentrados. Começaram a se apresentar dois anos atrás no Apollo Theater, na noite de amadores, e logo passaram a tocar em lugares públicos de Nova York. Certa noite, em 2012, Steve Jordan, multi-instrumentista que já acompanhou Eric Clapton e John Meyer, parou para conversar com os meninos, e terminou ajudando a banda a gravar uma demo.
Um vídeo dos meninos tocando em Times Square virou sucesso viral no ano passado, atraindo a atenção da mídia.
No final do ano passado, Alan Sacks, veterano produtor de filmes da Disney estava procurando um novo projeto. Ele leu um artigo sobre o Unlocking the Truth e pensou que eles seriam ótimos como tema para uma série de TV ou um filme —talvez de ficção. Mas quando foi apresentado aos meninos, percebeu um potencial diferente, e se tornou um dos empresários da banda.
Jolene Cherry, presidente-executiva da Cherry Party, uma gravadora associada ao grupo Sony que assinou com os meninos, nunca tinha trabalhado com músicos tão jovens quanto o Unlocking the Truth.
"Eu não planejava fechar contrato com crianças", ela diz. "Mas eles eram tão carismáticos, tão sábios".
Ela imaginou que o grupo talvez pudesse ser uma boa aposta, a despeito de ser uma novidade em um gênero musical no qual jovens negros são raridade.
Mas John Karkazis, produtor que está trabalhando no EP de estreia da banda, disse que "ninguém quer ser percebido como novidade passageira. O que é novo neles é que sejam tão jovens e tão bons. Mas cedo ou tarde eles estarão com 18 ou 19 anos, um ou dois álbuns gravados, e deixarão de ser vistos como novidade".
O EP da banda, que sai no final do ano, usará mais vocais do que suas canções anteriores. Isso pode requerer alguma paciência. Os meninos ainda estão mudando de voz.