Folha de S. Paulo


Crítica: 'Uma Lição de Vida' tem credenciais para ser filme inspirador

A história de Kimani Maruge, o homem mais velho de que se tem notícia a se matricular numa escola primária, é recriada em "Uma Lição de Vida". O filme chega ao circuito brasileiro quatro anos depois de suas primeiras exibições, em setembro de 2010, nos prestigiados festivais de Toronto e Telluride.

Em 2002, quando o governo do Quênia instituiu um programa de educação gratuita para todos, Maruge, então com 84 anos, apareceu na porta de uma escola, entre dezenas de crianças.

Depois de várias recusas e muita insistência, foi aceito e passou a frequentar as aulas. Sua história foi descoberta pela TV e ganhou repercussão mundial.

Ainda que fosse alvo de críticas e controvérsia, o cotidiano de Maruge (interpretado por Oliver Litondo) na escola não sustentaria um longa-metragem.

Divulgação
Os atores Vusi Kunene (esq.) e Oliver Litondo em cena do filme de Justin Chadwick
Os atores Vusi Kunene (esq.) e Oliver Litondo em cena do filme de Justin Chadwick

Para a sorte dos realizadores, seu passado é bem mais rico e intenso do que a curiosidade de um "fait divers".

Na juventude, Maruge participou da rebelião Mau Mau, que levaria à independência do Quênia, quando ele e sua família foram violentamente brutalizados por colonizadores ingleses associados a facções locais.

A narrativa alterna o cotidiano de Maruge na escola com seu passado na rebelião Mau Mau aproveitando como pano de fundo, ainda que muito superficialmente, essa importante etapa da história do Quênia.

O diretor é Justin Chadwick, expoente da televisão britânica que estreou no cinema com o drama histórico "A Outra" (2008) -sobre a história das irmãs Bolena na Inglaterra do século 16- e, depois de "Uma Lição de Vida", já fez "Mandela - O Caminho para a Liberdade".

Chadwick inscreve seu filme, com todas as credenciais, no filão dos filmes inspiradores, baseados em fatos reais.

E, como é de praxe nas produções de tema relevante, parece mais preocupado em buscar legitimidade em fatores externos do que em encontrar uma expressão cinematográfica que de fato confira autenticidade ao filme.

Assim, por mais que 95% do elenco sejam formados por atores e não atores locais, a sensação de um olhar exótico continua firme e forte ao longo de toda a projeção.

Um exemplo: nos intervalos das aulas e nas mais diversas situações, as crianças da escola põem-se a cantar em coro. A música garante belos momentos, é certo, mas ao mesmo tempo só reforça o clichê da representação do continente africano pelo olhar europeu.

UMA LIÇÃO DE VIDA (THE FIRST GRADER)
DIREÇÃO Justin Chadwick
PRODUÇÃO Reino Unido/EUA/Quênia, 2009
ONDE Espaço Itaú de Cinema - Augusta 2, Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca e Espaço Itaú de Cinema - Pompeia
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular


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