Folha de S. Paulo


Colecionador de discos fez trilhas sonoras para peças teatrais

Megacolecionador de discos de vinil, o empresário e músico Zero Freitas, 60, também compôs diversas trilhas sonoras para peças no Brasil. Hoje, é consultor musical do Teatro Oficina.

Formado em música na USP, casou-se com a atriz Noemi Marinho, sua primeira mulher, com quem teve três filhos. Há 20 anos, está casado com uma terapeuta.

Ele produziu trilhas para peças como "A Quarta Estação" (1995), do diretor Fauzi Arap, o monólogo da atriz Irene Ravache "Eu Me Lembro" (1996) e "Bésame Mucho" (1982), do grupo Mambembe.

"Como ele meio que abandonou o mundo artístico, talvez a coleção tenha sido o caminho para se manter na arte e na música", diz o ator Odilon Wagner, amigo de Zero.

Outro amigo, o diretor Mario Masetti, 63, concorda: "A paixão pela sonoplastia dos espetáculos que ele fazia deve ter contribuído para essa loucura do dia a dia". "Ele sempre foi muito caprichoso", diz José Celso Martinez Corrêa, diretor do Oficina.

'POUCOS DISCOS'

Aos 23, Zero acumulava 10 mil discos. Trinta anos depois, chegou aos 100 mil. "Daí para 5 milhões, o movimento é o mesmo, descendo a ladeira. Não tem esforço", diz Zero.

O momento de virada, afirma, foi quando descobriu o site de compras e leilões e-Bay. "A partir daí, é que nem fogueira no inverno. Começa com aquele foguinho. De repente, vira uma grande fogueira e tem que correr atrás de um extintor porque vai pegar fogo na sua casa."

Apesar da coleção gigante, Zero afirma ver falhas nela. "Quando dizem 'ah, você tem milhões de discos!', digo que são poucos." Exemplifica: acumula "só" 500 discos com gravações de discursos políticos. "Tem uma pessoa com 3.000 discos só de política. Esse sim é um colecionador."

Editoria de Arte/Folhapress

Apesar de entoar palavras de desapego —diz só "administrar" os discos e estar "de passagem"—, Zero confessa viver uma compulsão, pela história, e não pelos objetos em si. Considera-se um "juntador", não um colecionador. "Meu negócio é ir atrás, atirar para todos os lados. Um colecionador foca só numa coisa."

A megalomania faz com que ele procure discos por todas as partes: há pessoas na Nigéria, no Egito, no Canadá, nos EUA, no México e em Cuba que buscam coleções de discos locais para Zero.

Além disso, um de seus objetivos é o de ter todas as gravações já feitas no Brasil. Com tudo isso, conta, gasta pelo menos R$ 20 mil por mês.

Mas Zero afirma gostar mesmo é de ouvir música da jovem guarda, MPB, e clássicos do rock como Beatles e Frank Zappa. No fim de semana, escutou no carro gravação de Zélia Duncan cantando clássicos dos anos 1930 e 40.

Em casa, não se incomoda quando está longe das caixas de som: toca um "som chinfrim" do Youtube, sem se importar com a qualidade.

O "New York Times" rastreou Zero quando ele comprou parte de uma das maiores coleções dos EUA: 1,3 milhão de discos do americano Paul Mawhinney, -ele pedia US$ 3 milhões por toda a coleção, de 3 milhões de discos.

Assistente pessoal de Zero, Allan Bastos, 47, afirma que o empresário pagou menos que o valor pedido, sem revelar quanto. Ele conta que Zero pensou durante dois meses se daria a entrevista ao jornal americano, por questão de segurança.

"Depois ele disse: 'Meu ego está precisando de um pouquinho de atenção. Vamos lá'", afirma.


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