Folha de S. Paulo


Análise: Lauren Bacall foi uma fantasia, até ser tomada por Bogart

No começo, Lauren Bacall foi uma fantasia de Howard Hawks. Ou antes, foi uma descoberta de Slim, a mulher de Hawks, que a viu na capa de uma "Harper's Bazaar" e mostrou-a ao marido. Hawks gostou e a tomou sob contrato pessoal: queria, com ela, realizar essa sua fantasia de lançar uma grande estrela.

Nesse momento, Bacall ainda não era Bacall. Ela ainda teria de, sob orientação de Hawks, criar a voz grave que a celebrizou, para então ser lançada como estrela de "Uma Aventura na Martinica".

Quando as filmagens começaram, porém, nem tudo estava pronto. Ao fazer a primeira cena com Humphrey Bogart, conta-se que Lauren tremia como vara verde.

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A atriz Lauren Bacall, em imagem de 1998
A atriz Lauren Bacall, em imagem de 1998

Foi Bogart que conseguiu acalmá-la, dar-lhe confiança. Daí surgiu a cena em que ele joga-lhe uma caixa de fósforos e ela acende um cigarro: esse quase nada tornou-se uma cena mais que clássica do cinema americano.

Hawks, no entanto, não queria apenas lançar uma estrela. Queria tê-la sob controle. Queria possuí-la (provavelmente em mais de um sentido). Ora, a paixão de Lauren por Bogart poria fim à sua fantasia. E também à da então mulher de Bogart, que não pôde fazer nada contra a nova união do marido.

Quando o filme foi lançado nos EUA, em 1945, Lauren tinha só 20 anos. O trio faria outra obra-prima: o noir "À Beira do Abismo" (1946). Foi o último do trio. Daí por diante haveria Bacall-Bogart, ponto.

Como casal, ainda fariam um filme de peso, o policial "Paixões em Fúria" (1948), de John Huston. Depois, Lauren exibiu talento esporádico, nem sempre profundo.

Funcionou na comédia "Como Agarrar um Milionário" (1953), mas quem brilhava era Marilyn Monroe. Deu certo em "Palavras ao Vento" (1956), de Douglas Sirk, mas a atriz forte ali era Dorothy Malone.

Após a morte de Bogart, em 1957, voltou com destaque na formidável comédia "Médica, Bonita e Solteira" (1964), de Richard Quine, mas ali quem brilhava era Natalie Wood.

Outro reaparecimento, em 1976, com "O Último Pistoleiro", notável faroeste de Don Siegel. Ainda uma vez, será a coadjuvante, no caso de John Wayne, que faz o pistoleiro com câncer terminal.

Se não confirmou promessa de ser uma das maiores atrizes de Hollywood, mereceu um Oscar honorário em 2009 em reconhecimento ao seu papel central nos anos dourados do cinema: como senhora Bogart ou como a garota de olhos e voz apaixonantes, é isso mesmo que ela foi: central, fascinante, sonora.


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