Folha de S. Paulo


Arenas lotadas são rotina para o cantor de bachata Romeo Santos

"The Wall" do Pink Floyd não conseguiu, e Jay Z precisou da ajuda de Justin Timberlake e Eminem. Ter ingressos esgotados em shows consecutivos no Estádio Yankee em Nova York, com capacidade para quase 50 mil pessoas, beira o impossível para qualquer artista de música pop, com exceção de Paul McCartney. No entanto, Romeo Santos realizou essa proeza no mês passado.

Santos, que cresceu no Bronx e sempre foi fã do time de beisebol Yankees, se auto-intitula rei da bachata, um gênero musical originário dos canaviais e favelas da República Dominicana que foi refinado em Nova York e se caracteriza por violões pungentes, uma batida pulsante e, diferentemente da salsa, pela ausência de instrumentos de sopro. Um vídeo de seu CD mais recente já foi visto 345 milhões de vezes no YouTube, sendo que "Drunk in Love", de Beyoncé, teve apenas 185 milhões de visualizações.

O sucesso de Santos é uma prova não só da influência crescente da população hispânica nos Estados Unidos, que já passa de 50 milhões, e de duas décadas de sua própria atuação na cena musical, como também de um novo tipo de música no qual ele foi pioneiro. Ao mesclar um som latino tradicional e sua temática -romance- com rhythm and blues e toques de hip-hop, Santos, 32, criou um gênero que concilia antigas diferenças de gosto entre os mundos caribenho e mexicano-americano, ao mesmo tempo que agrada a jovens latinos que cresceram ouvindo música americana.

"Há um grande segmento de jovens latinos interessados em algo que lembre o hip-hop sem ser rap, tenha um tom romântico como rhythm and blues, mas que seja em espanhol e, portanto, passível de identificação", disse Deborah Pacini Hernández, autora do livro "Oye Como Va! Hybridity and Identity in Latino Popular Music" (oi, como vai! Hibridismo e identidade na música popular latina). "A bachataé sobre romance", explica a escritora. "Não apresenta aquela ostentação hipermachista e tem a ver com o mundo da dança."

Miguel Rajmil - 12.jul.2014/Efe
O cantor dominicano Romeo Santos em show em Nova York
O cantor dominicano Romeo Santos em show em Nova York

Em contraste com astros como Ricky Martin, Marc Anthony, Enrique Iglesias, Jennifer Lopez e Shakira, Santos não buscou uma abordagem múltipla. Embora muitas de suas canções tenham frases em inglês e ele tenda a falar uma espécie de "espanglês" fora do palco, Santos continua se recusando a gravar um disco em inglês. E explica: "Eu acredito em minha cultura e no meu gênero porque são lindos".

Na realidade, ele se tornou referência para um movimento inverso. Cientes da popularidade de Santos junto a jovens hispânicos, artistas de língua inglesa estão ansiosos para fazer parcerias com ele. Em seu segundo disco solo, "The Formula, Vol. 2", lançado em fevereiro, Drake e Nicki Minaj tentam corajosamente cantar em espanhol: ele em "Odio", uma faixa que também apresenta o rap em inglês de Drake, e ela na canção "Animales".

"Convidar artistas como Drake foi outra estratégia minha", comentou Santos, que estava respondendo a Drake em "The Motto" (O Mote). "As pessoas esperavam que fizéssemos uma canção rhythm and blues, mas era uma bachata, e acho que elas não estavam preparadas para ouvi-lo cantar em espanhol, nem rap em um disco de bachata. No início, ele mesmo dizia: 'Você não acha estranho uma batida de rap em uma bachata?' Então eu argumentei: 'Bem, se há alguém que pode conseguir isso sou eu'".

Santos é um dos raros artistas latinos que consegue estabelecer uma ponte no abismo musical entre falantes de espanhol de origem caribenha, mais numerosos na costa leste, e mexicano-americanos e centro-americanos, dominantes no restante dos EUA.

Santos fez a bachata, apesar das origens rurais e da ligação com a classe baixa na República Dominicana, ganhar uma aura de "modernidade e cosmopolitismo urbano", explicou Pacini Hernández.

Com pai dominicano e mãe porto-riquenha, ele é um produto puro do Bronx, tendo crescido em um ambiente multirracial e multi-étnico. Santos já atraiu a atenção da televisão e do cinema, e estará no próximo filme da franquia "Velozes e Furiosos".

A Romeomania tem limitado muito as possibilidades de Santos circular anonimamente em qualquer bairro hispânico dos EUA. Quando ele compareceu a uma sessão de autógrafos em uma loja de discos em Manhattan, a polícia foi chamada para manter a ordem.

"Ele é o maior, com uma base de fãs masculina e feminina, mas é especialmente idolatrado por garotas adolescentes e na faixa dos 20 anos", disse Latisha Gallman, gerente da loja. "Fazia muito frio no dia do evento, mas alguns fãs dele ficaram na fila por 27 horas e até compraram meias e mantas na loja ao lado para se agasalhar. Eles choraram ao vê-lo saindo do carro."


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