Folha de S. Paulo


Protesto marca encerramento de festa literária

A mesa Livro da Cabeceira é a mais tradicional da Flip. Último evento da festa, reúne escritores para ler trechos de seus livros favoritos.

Nesta edição, a amenidade costumeira da mesa foi substituída pelo tom grave do protesto político do líder indígena Davi Kopenawa.

Antes de embarcar para a Flip, Kopenawa apresentou à Polícia Federal em Boa Vista (RR) denúncia de que vem sofrendo ameaças de morte. No encerramento, ele lançou acusações contra a polícia, o governo de Roraima e o senador Romero Jucá (PMDB-RR).

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fotografia: Isadora Brant | edição: Bia Bittencourt

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"O filho de Jucá mora em Roraima. Ele manda os garimpeiros entrarem na terra ianomâmi, na minha terra", disse. "A polícia de Boa Vista, o governador de Roraima, estão deixando acontecer as ameaças."

Procurada no domingo (3), a assessoria de imprensa do governo de Roraima disse que não poderia responder às acusações porque o governador Chico Rodrigues (PSB) estava em viagem, sem sinal de telefone, e seria impossível contatá-lo. A reportagem não conseguiu contato com o senador Romero Jucá (PMDB) até a conclusão desta edição.

Antes do protesto de Kopenawa, os oito escritores participantes da mesa Livro de Cabeceira apontaram os livros que levariam para uma ilha deserta. A sessão foi apresentada pela britânica Liz Calder, fundadora da Flip.

Danilo Verpa/Folhapress
Davi Kopenawa, pajé e presidente da Hutukara Associação Yanomami, na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) nesta sexta-feira (1º).
Davi Kopenawa, pajé e presidente da Hutukara Associação Yanomami, na Flip

O jornalista Andrew Solomon leu um poema da autora americana Elizabeth Bishop (1911-1979). Já o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro selecionou um sermão do padre Antônio Vieira.

O israelense Etgar Keret escolheu "Matadouro 5", do americano Kurt Vonnegut (1922-2007). Brincou com o formato da mesa: "Passar o microfone de mão em mão é o mais perto que chegamos de um baseadinho".

A atriz e escritora Fernanda Torres declamou a crônica "A Última Vez que Vi Rubem Braga", de Millôr Fernandes. A jornalista argentina Graciela Mochkofsky escolheu o romance "A Condição Humana", de André Malraux (1901-1976).

O suíço Joël Dicker brincou que pensou em ler o próprio romance, para vender mais exemplares. Escolheu "Ratos e Homens", romance de John Steinbeck (1902-1968).

Já o mexicano Juan Villoro, em tom de galhofa, disse que preferiria levar para uma ilha deserta um livro que o ajudasse a fugir de lá. Elegeu "Lolita", de Vladimir Nabokov (1899-1977). Marcelo Rubens Paiva encerrou com "O Grande Gatsby", de Scott Fitzgerald. (marco rodrigo almeida)


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